
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
Simone

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
Os vários rostos da palavra...

Venho brincar aqui no Português, a língua. Não aquela que outros embandeiram. Mas a língua nossa, essa que dá gosto a gente namorar e que nos faz a nós, moçambicanos, ficarmos mais Moçambique. Que outros pretendam cavalgar o assunto para fins de cadeira e poleiro pouco me acarreta.
A língua que eu quero é essa que perde função e se torna carícia. O que me apronta é o simples gosto da palavra, o mesmo que a asa sente aquando o voo. Meu desejo é desalisar a linguagem, colocando nela as quantas dimensões da Vida. E quantas são? Se a Vida tem é idimensões?
Assim, embarco nesse gozo de ver como escrita e o mundo mutuamente se desobedecem. Meu anjo-da-guarda, felizmente, nunca me guardou.
Uns nos acalentam: que nós estamos a sustentar maiores territórios da lusofonia. Nós estamos simplesmente ocupados a sermos. Outros nos acusam: nós estamos a desgastar a língua. Nos falta domínio, carecemos de técnica. Ora qual é a nossa elegância? Nenhuma, excepto a de irmos ajeitando o pé a um novo chão. Ou estaremos convidando o chão ao molde do pé? Questões que dariam para muita conferência, papelosas comunicações. Mas nós, aqui na mais meridional esquina do Sul, estamos exercendo é a ciência de sobreviver. Nós estamos deitando molho sobre pouca farinha a ver se o milagre dos pães se repete na periferia do mundo, neste sulbúrbio.
No enquanto, defendemos o direito de não saber, o gosto de saborear ignorâncias. Entretanto, vamos criando uma língua apta para o futuro, veloz como a palmeira, que dança todas as brisas sem deslocar seu chão. Língua artesanal, plástica, fugidia a gramáticas.
Esta obra de reinvenção não é operação exclusiva dos escritores e linguistas. Recriamos a língua na medida em que somos capazes de produzir um pensamento novo, um pensamento nosso. O idioma, afinal, o que é senão o ovo das galinhas de ouro?
Estamos, sim, amando o indomesticável, aderindo ao invisível, procurando os outros tempos deste tempo. Precisamos, sim, de senso incomum. Pois, das leis da língua, alguém sabe as certezas delas?
Ponho as minhas irreticências. Veja-se, num sumário exemplo, perguntas que se podem colocar à língua:
· Se pode dizer de um careca que tenha couro cabeludo?
· No caso de alguém dormir com homem de raça branca é então que se aplica a expressão: passar a noite em branco?
· A diferença entre um ás no volante ou um asno volante é apenas de ordem fonética?
· O mato desconhecido é que é o anonimato?
· O pequeno viaduto é um abreviaduto?
· Como é que o mecânico faz amor? Mecanicamente.
· Quem vive numa encruzilhada é um encruzilhéu?
· Se diz do brado de bicho que não dispõe de vértebras: o invertebrado?
· Tristeza do boi vem de ele não se lembrar que bicho foi na última reencarnação. Pois se ele, em anterior vida, beneficiou de chifre o que está ocorrendo não é uma reencornação?
· O elefante que nunca viu mar, sempre vivendo no rio: devia ter marfim ou riofim?
· Onde se esgotou a água se deve dizer: "aquabou"?
· Não tendo sucedido em Maio mas em Março o que ele teve foi um desmaio ou um desmarço?
· Quando a paisagem é de admirar constrói-se um admiradouro?
· Mulher desdentada pode usar fio dental?
· A cascavel a quem saiu a casca fica só uma vel?
· As reservas de dinheiro são sempre finas. Será daí que vem o nome: "finanças"?
· Um tufão pequeno: um tufinho?
· O cavalo duplamente linchado é aquele que relincha?
· Em águas doces alguém se pode salpicar?
· Adulto pratica adultério. E um menor: será que pratica minoritério?
· Um viciado no jogo de bilhar pode contrair bilharziose?
· Um gordo, tipo barril, é um barrilgudo?
· Borboleta que insiste em ser ninfa: é ela a tal ninfomaníaca?
Brincadeiras, brincriações. E é coisa que não se termina. Lembro a camponesa da Zambézia. Eu falo português corta-mato, dizia. Sim, isso que ela fazia é, afinal, trabalho de todos nós. Colocámos essoutro português – o nosso português – na travessia dos matos, fizemos com que ele se descalçasse pelos atalhos da savana.
Nesse caminho lhe fomos somando colorações. Devolvemos cores que dela haviam sido desbotadas – o racionalismo trabalha que nem lixívia. Urge ainda adicionar-lhe músicas e enfeites, somar-lhe o volume da superstição e a graça da dança. É urgente recuperar brilhos antigos.
Devolver a estrela ao planeta dormente.
domingo, 24 de fevereiro de 2008
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
Por uma vida melhor...

Por uma vida melhor é o nome desta exposição que conta com cerca de 50 fotografias, a preto e branco, sobre a emigração portuguesa nos bidonvilles de Paris, para onde partiram muitos milhares, desde meados dos anos 50. É o seu quotidiano e as dificuldades por que passaram que Gérald Bloncourt nos retrata, ao longo desta exposição, sendo também parte da diáspora portuguesa que vê aqui o seu rosto. Ou, como refere o título da notícia da Lusa publicada em RTP-Notícias, "o homem que retratou a miséria dos filhos dos 'grandes descobridores' em França"...
No site que lhe é dedicado pude descobrir, entre outra informação com muito interesse, um dossier temático sobre a emigração portuguesa, chamado Sud-Express Portugal, "memoire et histoire de l'emmigration portuguaise", que se revela um verdadeiro arquivo sobre o tema, com filmes, notícias, documentos, em que - e cito -, "(...) os viajantes de Sudexpress não são turistas, mas viajantes convidados a participar na construção de uma memória colectiva." Da responsabilidade da Associação Memória Viva, aqui fica a dica para a visita, que recomendo.
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
Abaixo os tripés... e quem neles se apoiar!

Com tanto que há para fazer...
Parafraseando uma vez mais Fernando Pessa: "E esta, hem???"
sábado, 16 de fevereiro de 2008
Les concerts à emporter = Take away shows
Nas ruas de Paris, promove-se a actuação de bandas do momento, que actuam, de forma "espontânea", entrosando-se com quem passa e com quem está. Uma ideia que bem podia ser aplicada nas nossas cidades, desta feita com bandas "à séria" e não só com "aprendizes de feiticeiro", como se tem assistido muitas vezes por cá.
Descobri este site que, entre muitas outras coisas, nos permite visualizar os concertos decorridos nestes espaços. Escolhi, para ilustrar este post, uma das actuações dos Beirute, uma banda com uma sonoridade feita de influências várias, e de que gosto muito. Escutem...
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
Leituras à distância de um clique...

Boas leituras!
- A Divina Comédia -Dante Alighieri
- A Comédia dos Erros -William Shakespeare
- Poemas de Fernando Pessoa -Fernando Pessoa
- Dom Casmurro -Machado de Assis
- Cancioneiro -Fernando Pessoa
- Romeu e Julieta -William Shakespeare
- A Cartomante -Machado de Assis
- Mensagem -Fernando Pessoa
- A Carteira -Machado de Assis
- A Megera Domada -William Shakespeare
- A Tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca -William Shakespeare
- Sonho de Uma Noite de Verão -William Shakespeare
- O Eu profundo e os outros Eus-Fernando Pessoa
- Dom Casmurro -Machado de Assis
- Do Livro do Desassossego -Fernando Pessoa
- Poesias Inéditas -Fernando Pessoa
- Tudo Bem Quando Termina Bem -William Shakespeare
- A Carta -Pero Vaz de Caminha
- A Igreja do Diabo -Machado de Assis
- Macbeth -William Shakespeare
- Este mundo da injustiça globalizada -José Saramago
- A Tempestade -William Shakespeare
- O pastor amoroso -Fernando Pessoa
- A Cidade e as Serras -José Maria Eça de Queirós
- Livro do Desassossego -Fernando Pessoa
- A Carta de Pero Vaz de Caminha -Pero Vaz de Caminha
- O Guardador de Rebanhos -Fernando Pessoa
- O Mercador de Veneza -William Shakespeare
- A Esfinge sem Segredo -Oscar Wilde
- Trabalhos de Amor Perdidos -William Shakespeare
- Memórias Póstumas de Brás Cubas -Machado de Assis
- A Mão e a Luva -Machado de Assis
- Arte Poética -Aristóteles
- Conto de Inverno -William Shakespeare
- Otelo, O Mouro de Veneza -William Shakespeare
- Antônio e Cleópatra -William Shakespeare
- Os Lusíadas -Luís Vaz de Camões
- A Metamorfose -Franz Kafka
- A Cartomante -Machado de Assis
- Rei Lear -William Shakespeare
- A Causa Secreta -Machado de Assis
- Poemas Traduzidos -Fernando Pessoa
- Muito Barulho Por Nada -William Shakespeare
- Júlio César -William Shakespeare
- Auto da Barca do Inferno -Gil Vicente
- Poemas de Álvaro de Campos -Fernando Pessoa
- Cancioneiro -Fernando Pessoa
- Catálogo de Autores Brasileiros com a Obra em Domínio Público -Fundação Biblioteca Nacional
- A Ela -Machado de Assis
- O Banqueiro Anarquista -Fernando Pessoa
- Dom Casmurro -Machado de Assis
- A Dama das Camélias -Alexandre Dumas Filho
- Poemas de Álvaro de Campos -Fernando Pessoa
- Adão e Eva -Machado de Assis
- A Moreninha -Joaquim Manuel de Macedo
- A Chinela Turca -Machado de Assis
- As Alegres Senhoras de Windsor -William Shakespeare
- Poemas Selecionados -Florbela Espanca
- As Vítimas-Algozes -Joaquim Manuel de Macedo
- Iracema -José de Alencar
- A Mão e a Luva -Machado de Assis
- Ricardo III -William Shakespeare
- O Alienista -Machado de Assis
- Poemas Inconjuntos -Fernando Pessoa
- A Volta ao Mundo em 80 Dias -Júlio Verne
- A Carteira -Machado de Assis
- Primeiro Fausto -Fernando Pessoa
- Senhora -José de Alencar
- A Escrava Isaura -Bernardo Guimarães
- Memórias Póstumas de Brás Cubas -Machado de Assis
- A Mensageira das Violetas -Florbela Espanca
- Sonetos -Luís Vaz de Camões
- Eu e Outras Poesias -Augusto dos Anjos
- Fausto -Johann Wolfgang von Goethe
- Iracema -José de Alencar
- Poemas de Ricardo Reis -Fernando Pessoa
- Os Maias -José Maria Eça de Queirós
- O Guarani -José de Alencar
- A Mulher de Preto -Machado de Assis
- A Desobediência Civil -Henry David Thoreau
- A Alma Encantadora das Ruas -João do Rio
- A Pianista -Machado de Assis
- Poemas em Inglês -Fernando Pessoa
- A Igreja do Diabo -Machado de Assis
- A Herança -Machado de Assis
- A chave -Machado de Assis
- Eu -Augusto dos Anjos
- As Primaveras -Casimiro de Abreu
- A Desejada das Gentes -Machado de Assis
- Poemas de Ricardo Reis -Fernando Pessoa
- Quincas Borba -Machado de Assis
- A Segunda Vida -Machado de Assis
- Os Sertões -Euclides da Cunha
- Poemas de Álvaro de Campos -Fernando Pessoa
- O Alienista -Machado de Assis
- Don Quixote. Vol. 1 -Miguel de Cervantes Saavedra
- Medida Por Medida -William Shakespeare
- Os Dois Cavalheiros de Verona -William Shakespeare
- A Alma do Lázaro -José de Alencar
- A Vida Eterna -Machado de Assis
- A Causa Secreta -Machado de Assis
- 14 de Julho na Roça -Raul Pompéia
- Divina Comedia -Dante Alighieri
- O Crime do Padre Amaro -José Maria Eça de Queirós
- Coriolano -William Shakespeare
- Astúcias de Marido -Machado de Assis
- Senhora -José de Alencar
- Auto da Barca do Inferno -Gil Vicente
- Noite na Taverna -Manuel Antônio Álvares de Azevedo
- Memórias Póstumas de Brás Cubas -Machado de Assis
- A "Não-me-toques"! -Artur Azevedo
- Os Maias -José Maria Eça de Queirós
- Obras Seletas -Rui Barbosa
- A Mão e a Luva -Machado de Assis
- Amor de Perdição -Camilo Castelo Branco
- Aurora sem Dia -Machado de Assis
- Édipo-Rei -Sófocles
- O Abolicionismo -Joaquim Nabuco
- Pai Contra Mãe -Machado de Assis
- O Cortiço -Aluísio de Azevedo
- Tito Andrônico -William Shakespeare
- Adão e Eva -Machado de Assis
- Os Sertões -Euclides da Cunha
- Esaú e Jacó -Machado de Assis
- Don Quixote -Miguel de Cervantes
- Camões -Joaquim Nabuco
- Antes que Cases -Machado de Assis
- A melhor das noivas -Machado de Assis
- Livro de Mágoas -Florbela Espanca
- O Cortiço -Aluísio de Azevedo
- A Relíquia -José Maria Eça de Queirós
- Helena -Machado de Assis
- Contos -José Maria Eça de Queirós
- A Sereníssima República -Machado de Assis
- Iliada -Homero
- Amor de Perdição -Camilo Castelo Branco
- A Brasileira de Prazins -Camilo Castelo Branco
- Os Lusíadas -Luís Vaz de Camões
- Sonetos e Outros Poemas -Manuel Maria de Barbosa du Bocage
- Ficções do interlúdio: para além do outro oceano de Coelho Pacheco. -Fernando Pessoa
- Anedota Pecuniária -Machado de Assis
- A Carne -Júlio Ribeiro
- O Primo Basílio -José Maria Eça de Queirós
- Don Quijote -Miguel de Cervantes
- A Volta ao Mundo em Oitenta Dias -Júlio Verne
- A Semana -Machado de Assis
- A viúva Sobral -Machado de Assis
- A Princesa de Babilônia -Voltaire
- O Navio Negreiro -Antônio Frederico de Castro Alves
- Catálogo de Publicações da Biblioteca Nacional -Fundação Biblioteca Nacional
- Papéis Avulsos -Machado de Assis
- Eterna Mágoa -Augusto dos Anjos
- Cartas D'Amor -José Maria Eça de Queirós
- O Crime do Padre Amaro -José Maria Eça de Queirós
- Anedota do Cabriolet -Machado de Assis
- Canção do Exílio -Antônio Gonçalves Dias
- A Desejada das Gentes -Machado de Assis
- A Dama das Camélias -Alexandre Dumas Filho
- Don Quixote. Vol. 2 -Miguel de Cervantes Saavedra
- Almas Agradecidas -Machado de Assis
- Cartas D'Amor - O Efêmero Feminino -José Maria Eça de Queirós
- Contos Fluminenses -Machado de Assis
- Odisséia -Homero
- Quincas Borba -Machado de Assis
- A Mulher de Preto -Machado de Assis
- Balas de Estalo -Machado de Assis
- A Senhora do Galvão -Machado de Assis
- O Primo Basílio -José Maria Eça de Queirós
- A Inglezinha Barcelos -Machado de Assis
- Capítulos de História Colonial (1500-1800) -João Capistrano de Abreu
- Charneca em Flor -Florbela Espanca
- Cinco Minutos -José de Alencar
- Memórias de um Sargento de Milícias -Manuel Antônio de Almeida
- Lucíola -José de Alencar
- A Parasita Azul -Machado de Assis
- A Viuvinha -José de Alencar
- Utopia -Thomas Morus
- Missa do Galo -Machado de Assis
- Espumas Flutuantes -Antônio Frederico de Castro Alves
- História da Literatura Brasileira: Fatores da Literatura Brasileira -Sílvio Romero
- Hamlet -William Shakespeare
- A Ama-Seca -Artur Azevedo
- O Espelho -Machado de Assis
- Helena -Machado de Assis
- As Academias de Sião -Machado de Assis
- A Carne -Júlio Ribeiro
- A Ilustre Casa de Ramires -José Maria Eça de Queirós
- Como e Por Que Sou Romancista -José de Alencar
- Antes da Missa -Machado de Assis
- A Alma Encantadora das Ruas -João do Rio
- A Carta -Pero Vaz de Caminha
- Livro de Soror Saudade -Florbela Espanca
- A mulher Pálida -Machado de Assis
- Americanas -Machado de Assis
- Cândido -Voltaire
- Viagens de Gulliver -Jonathan Swift
- El Arte de la Guerra -Sun Tzu
- Conto de Escola -Machado de Assis
- Redondilhas -Luís Vaz de Camões
- Iluminuras -Arthur Rimbaud
- Schopenhauer -Thomas Mann
- Carolina -Casimiro de Abreu
- A esfinge sem segredo -Oscar Wilde
- Carta de Pero Vaz de Caminha -Pero Vaz de Caminha
- Memorial de Aires -Machado de Assis
- Triste Fim de Policarpo Quaresma -Afonso Henriques de Lima Barreto
- A última receita -Machado de Assis
- 7 Canções -Salomão Rovedo
- Antologia -Antero de Quental
- O Alienista -Machado de Assis
- Outras Poesias -Augusto dos Anjos
- Alma Inquieta -Olavo Bilac
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
Em 1999 houve esperança...

Uma manifestação ontem em Lisboa pedindo a intervenção de tropas da Organização das Nações Unidas (ONU) para conter os massacres em Timor-Leste reuniu dez vezes o número esperado de participantes. "Pretendíamos um cordão humano de dez quilômetros, o que necessitaria de 40.000 pessoas. Mas no final, tivemos cerca de 300 mil participantes", afirmou Pedro Dionísio, da Comissão para os Direitos do Povo Maubere.
O cordão humano uniu as embaixadas dos cinco países membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU - China, Estados Unidos, França Grã-Bretanha e Rússia -, passando também pela representação da organização em Lisboa. Prevista para durar 15 minutos, a manifestação acabou levando mais de uma hora.
Nas ruas de Lisboa, davam-se as mãos desde figuras conhecidas, como o primeiro-ministro Antonio Guterres, até gente que nunca participou de manifestações. "Estamos aqui porque estão matando o povo de Timor e é necessário que isso seja conhecido", afirmou o cantor Paulo de Carvalho.