tag:blogger.com,1999:blog-70865079534304019152023-12-26T07:10:44.539+00:00Uma espécie de mimDa cultura, cidadania, vivências, reflexões e impressões e do mais que me apetecer. Da Vida.Paula Crespohttp://www.blogger.com/profile/15097810207206499668noreply@blogger.comBlogger187125tag:blogger.com,1999:blog-7086507953430401915.post-2406995565628086162013-03-04T13:13:00.000+00:002013-03-04T13:13:25.708+00:00Este blogue mudou de casa. Para todos os interessados em continuar a seguir os meus escritos, informo que a nova morada é no Facebook, aberto a todos os que lá quiserem fazer uma visita:<br />
<a href="http://www.facebook.com/umaespeciedemim.paulacrespo?ref=tn_tnmn">http://www.facebook.com/umaespeciedemim.paulacrespo?ref=tn_tnmn</a><br />
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Obrigada e lá vos espero! :)<br />
Paula Crespohttp://www.blogger.com/profile/15097810207206499668noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7086507953430401915.post-41114718262532383872012-01-04T01:30:00.000+00:002012-01-04T14:30:11.702+00:00E será sempre o mesmo sonho, a mesma ausência…<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcVPbDH4yMa0OEV0KLLeaYlXqKueYm3RnhLK4D1NW1wOFViiLHNmDre2qwVDgl8-k_6xg7cIXDDKuU4IN7thZABaBzFslnSrUHdkwzFbpud1x83FGCcWcNb4itKzUZ4n0Edt2w-ZZAh_71/s1600/ausencia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" rea="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcVPbDH4yMa0OEV0KLLeaYlXqKueYm3RnhLK4D1NW1wOFViiLHNmDre2qwVDgl8-k_6xg7cIXDDKuU4IN7thZABaBzFslnSrUHdkwzFbpud1x83FGCcWcNb4itKzUZ4n0Edt2w-ZZAh_71/s320/ausencia.jpg" width="240" /></a></div>
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<span style="font-size: x-small;">Imagem tirada <a href="http://www.absenceandpresence.info/images/Absence%20and%20Presence.jpg" target="_blank">daqui</a></span></div>
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Chico esperava pacientemente à porta do colégio. Já passava das cinco da tarde, a chuva caía teimosa e mole há horas e começava a fazer frio. Mirou o relógio que vislumbrava da entrada da escola, a porta abria e fechava sempre que saía um miúdo e era colhido com um beijo na bochecha, um afago, uma festa na cabeça. A porta de um carro fechava-se invariavelmente atrás dessa imagem, repetida tantas vezes quantos os colegas que abandonavam o local onde passavam os dias.</div>
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O som e as imagens foram sendo cada vez mais raros, mais espaçados. Esgueirou os olhos uma vez mais pela porta que agora tinha ficado entreaberta e colou-os ao relógio. Tinha passado uma hora a mais do que a devida e nenhum sinal da mãe. Chegou, por fim, com a irmã pela mão, que entupia de chocolates.</div>
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- Chico, anda, que estás tu a fazer aí parado?! Mexe-te! A Teresinha tem de ir já para o banho.</div>
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E lá seguiu Chico, quatro passos atrás das duas. Chegados a casa, o serão desfilou igual ao da véspera, com a mãe a praguejar contra a má sorte e contra a vida – que triste era! -, os mimos e sorrisos engolidos pela Teresinha, todos para a Teresinha, e Chico, quatro passos atrás, enfiando-se no sofá, escondido atrás dos quadradinhos das páginas dos bonecos, fingia não dar por nada e desejava crescer depressa.</div>
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E o tempo fez-lhe a vontade. Chegou a puberdade, os primeiros olhares trocados timidamente com as raparigas do liceu. Os regressos a casa, onde a mãe continuava a barafustar contra a triste sorte, o pai de corpo presente e espírito alheado, sempre ausente,</div>
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- não serves para nada!</div>
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sentenciava a mãe. Chico virava as costas, voltava a enfiar-se no sofá, pregava os olhos na televisão, fingia viajar.</div>
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- Ainda há chocolate, mãe?</div>
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- Há uma tableta, mas é para a Teresinha, já sabes que ela aprecia.</div>
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O tempo cumpria a sua função, umas vezes mais devagar do que outras. O corpo robusteceu-se, ganhou forma de homem feito. Tinha passado por menino, mais ou menos silencioso, ouvindo as lamúrias da mãe que embriagava no próprio eco e no pai, que de pai gastava só o nome, pois o seu tempo era feito de outros caminhos. E sempre a voz daquela mulher, carregando os mesmos lamentos, carinhosamente cultivados e regados para que não murchassem. Chico enfiava-se no sofá, ansiando pela atenção há muito esperada, que não chegava.</div>
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E desistiu. Um dia chegou, bateu com a porta e partiu.</div>
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Abriu os olhos e afiou as garras. Cresceu de Chico a Francisco. Fez coisas. Ganhou, perdeu. E esperou. Casou, sonhou, esperou. Descasou. Vagueou por muito lado, carregou o sonho e a mágoa. Procurou o ontem nos dias de hoje,</div>
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- talvez amanhã seja diferente,</div>
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olhou o presente com a mágoa do passado. Tinha uma sede antiga que não passava. Em todas procurava essa água, um copo cheio, mas era sempre pouco. Desconfiava, irritava-se, enciumava. Cobrava as atenções a qualquer um, exigia respeito. Precisava de si, precisava urgentemente de si, precisava que o ouvissem e o seguissem. Abandonara o sofá onde os seus olhos belos e grandes observavam o vazio da casa cheia de ais, mas seguia às cegas, de grandes olhos abertos. E era sempre o mesmo sonho, a mesma ausência…</div>Paula Crespohttp://www.blogger.com/profile/15097810207206499668noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-7086507953430401915.post-46524715951301063042011-11-25T14:26:00.001+00:002011-11-25T14:47:40.573+00:00Memórias de infância<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxPycGBEOqblQoCFD8J5ChVao9utUX6ItrRF0d7sXO_b2W7WYIoARe8L-H6Yo54-PKHgWX2Fik7vGdd_rZAQNcl2SQfODskL30hGCeAZu5vrx0x2X4Dbp_W96vRdUyzL-tOtLUCM8RAzCh/s1600/electrico.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" hda="true" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxPycGBEOqblQoCFD8J5ChVao9utUX6ItrRF0d7sXO_b2W7WYIoARe8L-H6Yo54-PKHgWX2Fik7vGdd_rZAQNcl2SQfODskL30hGCeAZu5vrx0x2X4Dbp_W96vRdUyzL-tOtLUCM8RAzCh/s320/electrico.JPG" width="213" /></a></div>
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<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: x-small;">Foto de <a href="http://www.facebook.com/#!/profile.php?id=1437743960" target="_blank">José Neves</a></span></div>
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<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Maria olhou a miniatura de lata amarela. A tampa da arca aberta e ao lado o saco cheio de outras miudezas, prontas a seguirem viagem até ao contentor do lixo mais próximo. Agarrou o pequeno brinquedo, mexeu, mirou e remirou. Sorriu um sorriso calmo e morno e viajou numa memória perdida. Aquela miniatura lembrou-lhe as vezes em que, puxada pela mão da mãe, caminhava apressada, passos atabalhoados, pernas curtas de criança, aos tropeções, “depressa”, diziam-lhe, “não podemos perdê-lo”, e dava por si quase atirada para dentro, entalada entre um sobretudo e um vestido de lã. Sentia o carro deslizar a uma velocidade estonteante, e ia experimentando o prazer dessa pequena vertigem, deliciada. Mais tarde, a sensação amadureceu, a vida encheu-se de outros afazeres e o tempo corria veloz demais para a velocidade deste carro. Agora o prazer já era outro, ditado pelo charme da pequena carruagem. Deixou de ser escolha para pressas e foi usada para momentos em que o relógio vivia devagar. Mais tarde, ainda, abandonou por completo estes passeios, embarcou noutros, até ao momento presente, em que a viagem se fez de novo, através dos carris da memória. E quase jurava que voltou a sentir o aconchego do sobretudo e do vestido de lã.</span></div>
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<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"></span></div>Paula Crespohttp://www.blogger.com/profile/15097810207206499668noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-7086507953430401915.post-89750650913851472692011-05-19T16:57:00.000+01:002011-05-19T16:57:25.584+01:00Inquérito<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzxg1lECWFjsBmiG7n755OA7t4Y6SOLvS3wrgd0kXOGuVw77-juFLLny3XMobVRYXr_tToGzBga2ERsSNvnR3lOdajyEE2Batnk6QsWnvQWu40eSWQmG0puFDIw9FGanAE1xT_1mHSpvkt/s1600/familia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="228" j8="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzxg1lECWFjsBmiG7n755OA7t4Y6SOLvS3wrgd0kXOGuVw77-juFLLny3XMobVRYXr_tToGzBga2ERsSNvnR3lOdajyEE2Batnk6QsWnvQWu40eSWQmG0puFDIw9FGanAE1xT_1mHSpvkt/s320/familia.jpg" width="320" /></a></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Imagem tirada </span><a href="http://www.google.pt/imgres?imgurl=https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNW_Yc8HFY3IYJdZkp9XssC4f4YqPnKfgB9HId-OX1DAzatMhy6LWBbzogzvHA1NtC7JH6mpL_EPVHGtrPDywc3ZuW4elhSyYmD7KHXX3kPRndXMv7gaClsbciQsqGRfEVVJz4GB2yQC_d/s400/Tarsila+familia.jpg&imgrefurl=http://leiovejoeescuto.blogspot.com/2011_01_01_archive.html&usg=__cr3N3snx-o2FbUQ0eYEXFnguUGA=&h=250&w=350&sz=36&hl=pt-PT&start=0&zoom=1&tbnid=Mka4U2UQePGW9M:&tbnh=123&tbnw=180&ei=tDnVTbWPAcme-Qax0qGLDA&prev=/search%3Fq%3Dfam%25C3%25ADlia%2Bpintura%26hl%3Dpt-PT%26biw%3D1020%26bih%3D553%26gbv%3D2%26tbm%3Disch&itbs=1&iact=hc&vpx=123&vpy=83&dur=218&hovh=190&hovw=266&tx=116&ty=123&sqi=2&page=1&ndsp=17&ved=1t:429,r:0,s:0"><span style="font-size: x-small;">daqui</span></a></div><br />
<div style="text-align: justify;">Cristina e Margarida prepararam-se para mais um inquérito a uma família dita “tipo”. Das suas famílias, aspectos havia que teoricamente se distanciavam do modelo tipificado como ideal, se bem que cada vez mais comum nos tempos que correm. Prepararam-se para entrevistar uma mulher que lhes falaria da sua vida, da sua família e dos seus hábitos de consumo. Só não se tinham preparado para ouvir um relato na primeira pessoa de alguém que se dizia feliz, apesar das apertadas condições económicas em que vivia.</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Carla e Carlos tinham nascido um para o outro. Seres iguais, nos afectos e esperanças, alinhavavam a vida de ambos como se de uma única se tratasse. E, realmente, tratava-se de uma só. Nela cabiam muitos outros seres, a começar pelos três filhos adolescentes e uma rede de parentes e amigos, todos eles muito próximos entre si - e de Carla e Carlos. Também. Nessa rede viviam e dela se abasteciam, de afectos e proximidade. A ela recorriam todos, sempre que necessitavam de alguma coisa. Entreajudavam-se.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Carla é jardineira e Carlos serralheiro. Carla ganha uns magros 400 euros mensais e Carlos vai-se safando no ofício o melhor que pode. Carla ajusta as despesas do mês ao parco rendimento, tira partido de todos os talões de desconto que lhe chegam às mãos; contabiliza ao cêntimo as necessidades indispensáveis e dispensa todas as outras. No início de cada ano, perspectivam em conjunto as férias e os principais acontecimentos; no início das semanas, perspectivam as refeições de família e cozinham-nas, à vez. Partilham tudo o que tem a ver com a vida de família e, a bem dizer, nada mais resta para além dela. Centram a sua existência neste núcleo e ele lhes basta.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">De vez em quando, conseguem tirar uns dias de férias só para os dois, já que um casamento precisa de respirar também através destes momentos. "Os filhos compreendem", diz Carla, "e apoiam-nos. Já realizei a viagem da minha vida: fui a Veneza com o meu marido, uma semana, e adorei!"</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Carla veste sem luxo mas tem uma aparência digna. Aqui e ali um ou outro acessório, como que a atestar a contemporaneidade: um relógio <em>Swatch</em>, umas pulseiras da moda… A espaços, Margarida olha a colega de soslaio como que mal refeita ainda da surpresa desta entrevista. Ocorre-lhe por vezes ficar a ouvir Carla como que em <em>voz off</em>, ao longe, e perder-se em pensamentos menos felizes. Ocorre-lhe lembrar-se que há vinte anos que o seu marido se alheia das responsabilidades domésticas; ocorre-lhe ainda que o seu dia-a-dia é preenchido com inúmeras tarefas, todas sempre tão carregadas de responsabilidade, que mal tem tempo para si própria. Ocorre-lhe, por fim, que não se lembra de ter tido a viagem da sua vida, fosse esta qual fosse, e que ouviu e registou com indisfarçável espanto que Carla, a jardineira, mal paga, já a tinha realizado e – pasme-se! – com o marido!...</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Passada hora e meia, Cristina e Margarida abandonaram aquela casa. Um silêncio perturbador pesou sobre ambas, distraídas em rebobinar rapidamente as suas vidas, como se fosse possível fazer uma síntese de quarenta e poucos anos de existência naqueles escassos minutos e, ainda por cima, daí conseguir retirar uma conclusão que lhes servisse de guia. Cristina foi a primeira a quebrar o silêncio opressivo. Talvez por defeito de formação, a referência que surgiu em primeiro lugar foi uma obra que tinha acabado de ler e para a qual estabeleceu uma ponte. “Trata-se de um livro sobre o Estado Novo”, comentou em voz alta. “É muito interessante verificar que Salazar fazia assentar o seu modelo social na família, em detrimento do cidadão, do indivíduo. Defendia ele que a família deveria ser o primeiro dos elementos políticos do Estado, e daí a figura do chefe de família como porta-voz da mesma, o chefe de família como eleitor das instituições do Estado, e por aí fora. É claro que as consequências disto são por demais conhecidas, mas poderíamos sempre filosofar sobre se deverá a sociedade eleger a família como seu núcleo central ou, pelo contrário, libertar o indivíduo dessa carga e responsabilizá-lo, tornando-o num cidadão de pleno direito!”</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Margarida sorriu e preparou-se para traduzir a reflexão da colega por um discurso menos académico. “O que eu sei é que a Carla que acabámos de entrevistar não tem grandes ambições, para além de construir uma família. O que já não é pouco! Mas basta-lhe isso, não procura outros caminhos, outras realizações. E, apesar das dificuldades económicas, consegue encontrar-se, graças a um estilo de vida comunitário, ao suporte de uma rede familiar e de amigos próximos, e isso é formidável! Ela conseguiu uma estabilidade emocional que lhe permite seguir em frente.”</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Cristina concordou e sorriu. Pensou na dificuldade que sentia em eleger algum homem da sua família chegada que servisse de modelo masculino capaz para o seu filho adolescente… Pensou ainda em como deve ser confortável ter uma rede de apoios como a que lhe tinham relatado. Mas sabia também quanto valorizava a sua individualidade e como não se reconheceria facilmente dentro de um círculo fechado. Valorizava sobretudo o equilíbrio e, perante uma escolha entre segurança ou liberdade, decidia-se pelas duas. Quanto baste, reconhecia.</div>Paula Crespohttp://www.blogger.com/profile/15097810207206499668noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-7086507953430401915.post-20433965928912554402010-12-28T18:10:00.004+00:002010-12-28T21:07:46.166+00:00Doces da época e outros amargos de boca<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHfnlm4EMptGNPQ3fKCIBjBV-e3fAg6sYcrsdJt20psw5Ou-oYIhsbBnPU5PCfFGWgQcW2dUle0yp-WYe_gvztethgK5bZz8HDs_XCmN8NSpkvLY093gy0Z9WswyrT_E2L2PR_d7z_DRah/s1600/image001.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 326px; DISPLAY: block; HEIGHT: 400px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5555797514385289890" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHfnlm4EMptGNPQ3fKCIBjBV-e3fAg6sYcrsdJt20psw5Ou-oYIhsbBnPU5PCfFGWgQcW2dUle0yp-WYe_gvztethgK5bZz8HDs_XCmN8NSpkvLY093gy0Z9WswyrT_E2L2PR_d7z_DRah/s400/image001.jpg" /></a><br /><em>O Natal não é uma data, é um estado de espírito</em>. Leu. Dobrou o jornal em dois e ocorreu-lhe que gostaria de lhe dar mais corpo, a esse Natal que, pelos vistos, vive mais em espírito. Materializá-lo. Poder tocar-lhe, desvendar-lhe as formas, agarrá-lo e chamá-lo a si. Há já tantos anos que apenas o sonhava, que dele tinha saudades. Saudades de uma casa cheia, cheia de gente e de vozes, de risos e algum calor. Semicerrou os olhos para logo de seguida os abrir e fixar o tipo careca que aparentava apenas uns trinta de idade e mexia nervosamente o café. Um tipo muito vulgar, pensou, e talvez por isso desviou o olhar que percorreu um círculo em direcção ao jornal, dobrado ao meio, que repousava na mesa ao lado do prato com os restos do folhado. Seco, por sinal. Ainda com o Natal na cabeça, lembrou-se que gostava muito de azevias, principalmente das de grão, e que só costumava comer duas ou três em cada Dezembro. Apesar de gostar, o certo é que as enjoava facilmente e perdia a vontade até ao ano seguinte. Luísa tinha mão, fazia-as bem, mas desde que saiu comprava-as na pastelaria e não era a mesma coisa. </div><div align="justify"><br />Saiu, com o jornal que continuava convenientemente dobrado debaixo do braço. Caminhou ao longo da rua, dobrou a esquina, atravessou outra rua e mais outra. Parou no semáforo para atravessar uma terceira e observou um casal com dois miúdos, um ainda criança, outro nem tanto, já adolescente, espigadote. Sorriu para dentro um sorriso pálido e novamente a ideia do Natal e do seu corpo entrou no seu pensamento, ou diria antes, no seu espírito. Não teve filhos e esse desejo esteve ausente durante muito tempo. Só chegou agora, sob a forma de vazio, um vazio acentuado a cada Dezembro, um maldito mês que no seu final se despedia sempre em tons carregados. Luísa, essa sim, sentira essa falta e talvez por isso as coisas azedaram entre eles, devagarinho, e mais tarde resolveu arejar e procurar preencher vazios, vários, noutros registos de vida. </div><div align="justify"> </div><div align="justify"> <p> </p>O bolso do casaco vibrou com o toque do telefone. Atendeu. Falou uma conversa curta com o irmão. Desligou. Mais um problema resolvido - comeria as azevias em casa dele, com a cunhada e os miúdos, os sogros do irmão e uns primos do Algarve, que rondavam a mesa e o espaço em cada Dezembro e compunham a cena e aqueciam as conversas. Não seria o cenário idealizado, mas era o possível e, pensando bem, era de dar graças por ainda existir esta possibilidade, este aconchego. Agora devia ocupar-se com outros afazeres, como o que dar aos dois sobrinhos, cheios de tudo e falhos de coisa nenhuma, que agora os miúdos já nem espaço têm para desejar, de tão atafulhados que ficam nestas ocasiões. E noutras, também. Lembra-se que em criança desejou muito uma mota que demorou alguns anos a conquistar, mas hoje já não é assim. Resta saber como será amanhã, mais tarde, se já for difícil encher embrulhos bonitos, o que será das crianças, já grandes por fora, mas teimosamente pequenas por dentro… Enfim, pelo menos ele não sentiria na pele esse problema, uma vez que não tinha filhos. </div><div align="justify"><br />Olhou para o relógio e sobressaltou-se com as horas, que o fizeram despertar para o presente. Continuou a andar pela avenida até que se deteve numa montra e o presente recuou, muitos anos. Sorriu um sorriso cúmplice, e resolveu-se a comprar uma mota que animava aquela pequena montra. Pronto, pensou, já tenho mais um problema resolvido. </div>Paula Crespohttp://www.blogger.com/profile/15097810207206499668noreply@blogger.com18tag:blogger.com,1999:blog-7086507953430401915.post-29881421609046957992010-11-07T23:10:00.002+00:002010-12-17T21:59:46.512+00:00O senhor João<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEio3Q6EzPimk2xDBpoPBap0TAWSKLv9hxkxzf25sQJkYnxh-8o7tAnrXHvRgpMhkdI9a0upe0nmZMhPdNw3fHIh6IlIm5cJg3WNURSDorEVbUuXzN4LYfpkMh466ExZlsWy-Rzvc4tNGDKe/s1600/modigliani.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 249px; DISPLAY: block; HEIGHT: 400px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5536122369619226674" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEio3Q6EzPimk2xDBpoPBap0TAWSKLv9hxkxzf25sQJkYnxh-8o7tAnrXHvRgpMhkdI9a0upe0nmZMhPdNw3fHIh6IlIm5cJg3WNURSDorEVbUuXzN4LYfpkMh466ExZlsWy-Rzvc4tNGDKe/s400/modigliani.jpg" /></a> </div><p align="justify">Afastou com a ponta dos dedos a cortina branca da janela e espreitou pela vidraça. Ao fim da tarde, já pouca luz restava, já a sombra vinha comendo aquela rua estreita, o passeio, o prédio da dona Deolinda que morara mesmo em frente, no primeiro andar, mas João nem notava, de tal forma conhecia de olhos fechados a sua rua. Passava pouca gente àquela hora, quem regressava do emprego já tinha chegado e o frio não chamava para fora de casa, pelo contrário, percebia-se a luz das televisões por algumas das janelas que ainda permaneciam acordadas, antes do correr dos estores que anunciavam o sono dos seus donos.</p><div align="justify">João olhava para fora, com o olhar morno de quem tem tempo para esbanjar. Do terceiro andar do 26 assomou-se à janela uma rapariga, devia ter aí uns 25 anos, mais ou menos, não lhe sabia o nome, apenas que se tinha mudado para aquela casa onde dantes morava a dona Conceição e o senhor Ramiro, coitado, tinha ido desta para melhor faz aí uns cinco anos, à conta do coração que o desacompanhou de vez.</div><div align="justify"><p></p>O olhar de João ainda se mantinha preso ao passeio da frente mas já o pensamento descia a rua, para se estancar à esquina onde João vivera anos a fio atrás do balcão da sua mercearia. Reinara sem rival naquela rua estreita e comprida, acompanhado pela Lurdes, sua mulher, que existia dentro de uma bata negra, na parte de trás da loja, encostada a um fogão que fritava rissóis e pastéis que as donas deolindas e outras levavam para os netos. O casal viera do Minho e assentara ali. A pequena mercearia de João e Lurdes era o centro daquele mundo estreito, habitado por adelaides, joaquinas, deolindas, ramiros e antónios. Havia também a dona Isaura, uma mulher da Beira Alta, madura e roliça, e o seu marido Carlos, que guiava a carrinha da Carvalhelhos. Dona Isaura era chamada à loja duas vezes por mês, para atender a chamada que vinha da terra. E lá descia a rua dona Isaura, apressada, com uma pequena angústia a assaltar-lhe o pensamento, sempre pronta para ouvir uma notícia má, a atender o telefone preto encafuado em cima da lista telefónica num nicho junto ao balcão. Será que a minha Aninhas está bem? Ai credo!, Deus me valha!, ouviu-a tantas vezes dizer.</div><div align="justify"></div><p></p><div align="justify">A sua loja era um espaço acanhado, um pequeno mundo atafulhado de sacas de feijão e grão que era servido ao peso em medidas de lata e despejado para dentro dos sacos das freguesas. João inclinou a cabeça para trás e a sua memória trouxe-lhe o cheiro das compotas que a anafada Lurdes, dentro da sua inseparável bata preta e com um sorriso estampado na bochecha transpirada pelo fogão, costumava fazer. O do tomate era o que tinha mais saída, recorda, era o preferido da Isabelinha, que vivia no 72 e tinha duas irmãs, a Teresa e a Cristina. Muito diferentes, por sinal, essas gostavam era de ir lá a meio da tarde buscar iogurte natural da Vigor, em boiões de vidro, claro, que nessa época não havia outros.</div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><p></p><div align="justify">Em frente vivia uma família com duas filhas. Destoavam deste mundo, não davam cavaco a ninguém. Muito independestes, dizia-se que ele era engenheiro e a mulher professora numa faculdade e vestiam uma roupas muito coloridas, em especial as raparigas. Mas esses não costumavam ir muito à sua loja, saíam cedo e voltavam tarde e não se davam com a vizinhança. Pois não, remata João, para si.</div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><p></p><div align="justify">João espreita agora a rua em sentido contrário e olha até onde ela quase termina. A partir daí já não lhe desperta interesse, ali começava outro mundo que já não era o seu. Do seu, esse sim, tem saudades!... Era assim a vida daquela rua, há uns trinta e muitos anos. Um pequeno mundo fechado onde todos se conheciam. Todos, que tinham saído das suas terras e transplantado a ruralidade para esta rua, em doses mais controladas, é certo, mas ainda assim era uma nova pequena aldeia. Hoje João já não reconhece os passos de todos os que lá moram, nem lhes segue as horas, nem os caminhos. Da rapariga que parece ter 25 anos e que assomou por momentos à janela ele desconhece o nome. A sua mercearia há mais de uma década que deixou de vender enchidos minhotos para albergar brique-à-braque chinês. As donas deolindas foram morrendo; as casas, uma moribundam, outras renovam-se aos poucos para dar abrigo a gente sozinha ou a casalinhos jovens; e uma outra, lá ao fundo, do lado de quem desce, foi transformada em bar que já abriu e fechou vezes sem conta. É a vida!, suspirou João.</div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><p></p><div align="justify">Libertou a cortina, presa dos seus dedos, afastou-se da janela e olhou para dentro, para o relógio de parede que lhe mostrava que eram horas de compor o estômago. E eu sem fome, protestou. Sobressaltou-se ao som do telefone e sorriu ao de leve com essa breve angústia, recordando-se da dona Isaura e das suas apoquentações em direcção ao seu telefone preto. Nós éramos assim, concluiu. Sem essas pequenas angústias nem sabíamos respirar: se alguma coisa mexia só podia ser ruim. Sorriu uma vez mais e chegou tarde junto do telefone. Branco, agora. Deixa, antes assim, disse num bocejo. Quem quiser que ligue de novo.</div></div></div></div>Paula Crespohttp://www.blogger.com/profile/15097810207206499668noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-7086507953430401915.post-34575613391633557072010-11-03T17:09:00.011+00:002010-11-07T23:43:01.099+00:00Validação<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpMmUX-D2EGFoFLxx1tyOvldJmHU6LppTGQdbjEgSZ4NInBzCfULdYgGx7HfQkWBNtS5RKsVpxnPVM_ZPyJWK8mq4imnBNhB01ZVvv-cm22c4p81rnVNAft9JB6hNkKQG2frAzkoCG3yKU/s1600/magritte-5.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 269px; DISPLAY: block; HEIGHT: 217px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5535378870716489282" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpMmUX-D2EGFoFLxx1tyOvldJmHU6LppTGQdbjEgSZ4NInBzCfULdYgGx7HfQkWBNtS5RKsVpxnPVM_ZPyJWK8mq4imnBNhB01ZVvv-cm22c4p81rnVNAft9JB6hNkKQG2frAzkoCG3yKU/s400/magritte-5.jpg" /></a><br />Estava mesmo em cima da hora. Estacionou o carro na praceta, debaixo de uma chuva miudinha, abriu com dificuldade o guarda-chuva que já contava com duas varetas desamparadas, segurou como pôde a mala sempre aberta e saiu. Ultrapassou a esquina e entrou por aquela porta de alumínio, baixa, subindo as escadas e sentou-se à espera. Poucos minutos depois, ele abriu a porta, sorriu-lhe o sorriso habitual e, amavelmente, convidou-a a sentar-se. Então, como se sente?<br />Sentou-se. <div align="justify"><br />Tentou passar rapidamente em revista a sua semana, na esperança de eleger acontecimentos dignos de registo. Na verdade, não lhe ocorria nada a que pudesse reconhecer relevância; a não ser que se sobressaltava ao mais leve movimento inesperado ou ao ouvir um som brusco; que se sobressaltava no desconforto dos seus dias, no desconforto de se saber a falar para o vazio e sem eco. Bom, mas isso não significava que alguma coisa tivesse acontecido, antes pelo contrário, já que não registava nenhum acontecimento digno de nota. A não ser que reflectisse sobre o facto de ao fim de todos estes anos continuar a falar para o vazio. Talvez isso fosse um problema geracional, era-o com toda a certeza, concluiu facilmente, já dentro da conversa com ele. Ele olhava-a e aguardava pacientemente que mais ideias surgissem e, quando surgiam, perguntava com uma certa cadência Quer ajudar-me a entender isso? Queria, seguramente. E avançava confiante pela teoria do conflito de gerações, discorrendo sobre o diferente valor dado às coisas e de como os conceitos abstractos tinham um entendimento diferente do dos conceitos mais materiais. De como, na outra geração, o respeito pelo outro ou a liberdade individual perdiam terreno para as questões mais concretas, como o custo das coisas e a segurança material, por exemplo. </div><div align="justify"><br />Deixou sair um breve olhar pela janela, de soslaio, e voltou a vasculhar na memória recente a ver se descobria dias relevantes. Novamente de soslaio, o olhar virou-se para ele, que aguardava, pacientemente. Não sei que mais lhe possa contar, confessou timidamente. Ele sorriu, também um sorriso contido, e largou, a título de achega, Costuma dizer-se que quem está mal, muda-se...<br /></div><div align="justify"><p></p><div align="justify">Ela pensou ter compreendido. Remexeu-se na cadeira, cruzou e descruzou as pernas que sempre teimavam em não permanecer ambas na mesma posição, e resolveu-se a mudar. Foi a sua vez de sorrir um sorriso, desta vez para si própria. Para começar, iria sair dali, para o mundo real, e largar a muleta de quem nada mais lhe trazia do que ser eco e aplauso das conclusões a que já, por si mesma, tinha chegado. </div><div align="justify"><br />Desceu as escadas, fez o caminho de volta e deixou-se envolver pela chuva miudinha que ainda marcava o final do dia. Saiu, com a sensação de ter levado um carimbo de validação em todas as reflexões que, habitualmente, nem achava que fossem suas mas apenas do senso comum. Ligou o rádio do carro e ouviu-o cantar a velha metáfora: Estava eu quase morto no deserto, e o Porto aqui tão perto!... </div></div></div>Paula Crespohttp://www.blogger.com/profile/15097810207206499668noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-7086507953430401915.post-1270038959997998492010-09-10T16:15:00.004+01:002010-09-10T16:22:12.786+01:00Forever young ou o síndroma de Peter Pan<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhstVEiCjrZdJlg39izC9duJ4FK5NpRkZVdqp_yRo3bXCb4Cy91eOXwf1aokThzO_FmzuDfbi078bue8joBi5TGoUT5s8yAaAwEfzINLaI0VHCZTFGeu1Yk__RBWnsvGuthYeMvRgg1zXaz/s1600/peterpan.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 370px; DISPLAY: block; HEIGHT: 310px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5515240206261165362" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhstVEiCjrZdJlg39izC9duJ4FK5NpRkZVdqp_yRo3bXCb4Cy91eOXwf1aokThzO_FmzuDfbi078bue8joBi5TGoUT5s8yAaAwEfzINLaI0VHCZTFGeu1Yk__RBWnsvGuthYeMvRgg1zXaz/s400/peterpan.jpg" /></a><br /><p align="center"><span style="font-size:78%;">Imagem tirada </span><a href="http://www.google.pt/imgres?imgurl=http://3.bp.blogspot.com/_oQwzq9OkLNQ/SlYG4VBF8zI/AAAAAAAABlM/oy6I3pbNppI/s400/peterpan.jpg&imgrefurl=http://cristinaigc.blogspot.com/2009/07/peter-pan.html&usg=__wbQQPzlwt71S7ZgF8O0KZEtsU_U=&h=310&w=370&sz=30&hl=pt-PT&start=17&zoom=1&tbnid=M5klOLHNZm_AAM:&tbnh=144&tbnw=171&prev=/images%3Fq%3Dpeter%2Bpan%26um%3D1%26hl%3Dpt-PT%26sa%3DN%26biw%3D926%26bih%3D464%26tbs%3Disch:1&um=1&itbs=1&iact=rc&dur=516&ei=ikeKTJXpEJbKjAeZ-JycBg&oei=gUeKTLfIMMmKswaN5ejZAQ&esq=3&page=3&ndsp=10&ved=1t:429,r:7,s:17&tx=96&ty=112"><span style="font-size:78%;">daqui<br /></span></p></a><div align="justify"><br /></div><div align="justify">Mas é sexta-feira. Pior do que isso, é sexta-feira à tarde, um tempo em que ninguém tem vontade para reflexões.</div><div align="justify"></div><div align="justify"><p></p>O mote foi-me dado pela peça de teatro que vi ontem, <em>Terra do Nunca</em>, inserida no festival <em>Entre Mitos</em>, de Oeiras. Quatro actores brasileiros que no palco fizeram maravilhas e, de uma forma aparentemente descontraída, puseram em cima da mesa o tema talvez mais actual que possamos imaginar: a pior doença do nosso tempo é a velhice, o grande estigma, a única que verdadeiramente se esconde.</div><div align="justify"></div><p></p><div align="justify">Como se anuncia na sinopse da peça, <em>o tema tem por base a busca da juventude eterna através de uma abordagem transversal. Este espectáculo procura reflectir sobre como, actualmente, todos de todas as idades querem incluir nas suas vidas o repertório jovem de produtos culturais, roupas, hábitos, gírias e amantes. A dramaturgia mistura referências numa meditação cénica, sobre este nosso bizarro, belo, audacioso e perigoso ímpeto de ser jovem para sempre.</em></div><div align="justify"></div><div align="justify"><p></p>E, assim sendo, não cresço nem envelheço; simplesmente DURO. Congelo a minha imagem e brinco com o tempo, faço-lhe orelhas moucas, ignoro-o. No fundo, temo-o porque o sei incontornável e, por isso mesmo, finjo ignorá-lo. Não cresço nem envelheço porque me recuso a acrescentar ao meu rosto, ao meu corpo e à minha rotina as marcas do tempo e da apendizagem. Porque, deliberadamente, me cristalizo nesse momento ideal que julgo ser a juventude ou pouco mais do que ela, me desresponsabilizo, sigo em frente de olhos vendados sem projecto algum que não seja viver os códigos ditos jovens, divertir-me e não pensar.</div><div align="justify"></div><div align="justify"><p></p><em>Forever young, I'm gonna be forever young...</em></div><div align="justify"></div><div align="justify"><p></p>Nem sequer "adolescemos" mais, porque não transformamos nem inovamos, como seria próprio da adolescência, nem pretendemos mudar nada. Apenas queremos manter a nossa imagem eternamente... jovem??...</div><div align="justify"></div><div align="justify"><em><p></p>Fotografei você na minha rolleiflex / revelou-se a sua enorme ingratidão...*</em></div><div align="justify"></div><div align="justify"><p></p><em>Terra do Nunca</em>. É esse o nome da peça levada à cena, numa clara alusão a Peter Pan. Talvez porque <em>nunca</em> é o contrário de <em>sempr</em>e (ex: <em>vais estar sempre ao meu lado</em>; <em>vou amar-te para sempre</em>, etc.). E, então, caminhamos em direcção ao <em>nunca</em>, uma espécie de negação deste <em>sempre</em> que parece amarrar-nos, agrilhoar-nos, comprometer-nos.</div><div align="justify"></div><div align="justify"><p></p>Parabéns a Ivan Sughara e Amigos, pelo magnífico momento de teatro e reflexão. Mesmo.</div><div align="justify"></div><div align="justify"><p></p>Mas, obviamente, esta reflexão não estará concluída (alguma vez o estará?...) sem antes considerarmos o modelo das gerações anteriores, ao qual nos propomos opor. Elas pareciam caminhar em frente, assumindo as responsabilidades naturais da vida, mas carregando um cinzentismo que nós, actualmente, rejeitamos. E não será de rejeitar? Claro que sim, já que a vida é para ser vivida e, de preferência, a cores. Mais uma vez, há que procurar o ponto de equilíbrio e aceitar que a aprendizagem deixa marcas e entendê-las como troféus. O problema é que não estamos a ser educados nesse sentido e, assim sendo, esse equilíbrio anda longe. Dão-se alvíssaras a quem o encontrar.</div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><br />* Verso da canção <em>Desafinado</em>, de Tom Jobim.Paula Crespohttp://www.blogger.com/profile/15097810207206499668noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-7086507953430401915.post-86021504718988954482010-04-15T18:49:00.000+01:002010-04-15T18:53:31.578+01:00Legenda de um olhar...<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBV0UKYZE7y3BnNzcF7kI3SfTQBXLJiafYADumAcJzgZK93uRly46qg8Qfgv7q_c1cQIEi35fblhIu970QoxyNnSIql-R39C1YgYnwQyK2gVzgQUpTQK-vR24XgXhtuKLhQIZqr-gMuPLv/s1600/idosa.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 247px; DISPLAY: block; HEIGHT: 320px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5460410473629689026" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBV0UKYZE7y3BnNzcF7kI3SfTQBXLJiafYADumAcJzgZK93uRly46qg8Qfgv7q_c1cQIEi35fblhIu970QoxyNnSIql-R39C1YgYnwQyK2gVzgQUpTQK-vR24XgXhtuKLhQIZqr-gMuPLv/s320/idosa.jpg" /></a> <div align="justify">O tempo tinha-o de sobra, apesar do pouco que lhe restava.<br />Cada ruga, cada traço, carregava anos de dias pesados, duros de trabalho.<br />Levantou-se cedo desde o berço, um caixotinho de tábuas perto da braseira. Cresceu e viveu acartando lenha, tratando da criação. Criou outra também, um rancho de seis filhos, quase todos ausentes agora, tirando a Laurinda que tinha ficado por perto e que agora ganhava a vida atrás do balcão, desfiando tecido a metro para uma freguesia pouco exigente e ainda menos compradora. Para além disso cuidava dela. Todos os dias lhe levava o almoço, lhe fazia a cama, lhe arrumava a casa, que Bárbara já não se endireitava como antes. </div><br /><div align="justify">E esta ficava a olhá-la, quieta e silenciosa. Olhava-a e reconhecia os velhos gestos, os de sempre, que tinha passado à filha na rotina da lida da casa. Olhava-a num sentimento de missão cumprida, de ciclo fechado. Olhava-a na certeza e com a segurança ganhas pelo tempo. Do passado e do que lhe restava. </div>Paula Crespohttp://www.blogger.com/profile/15097810207206499668noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-7086507953430401915.post-31163748934527593572010-03-24T12:10:00.001+00:002010-03-24T12:18:12.932+00:00As construções de Joana<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirmPnKwbqMnHswwPWTFUXHYiARNYGsDBiDwk-DEsGbT6e8ksXDIaZFRyn2Ch_byFXSkk1JVEpeYRYpuCJf81oglIp5utpnvBMQjHHZwhUeIGzHLd0Qr5OeUfQ_yvJNkSO1ohd3QEl4N4Fo/s1600/JVasconcelos.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 266px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5452160948793332786" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirmPnKwbqMnHswwPWTFUXHYiARNYGsDBiDwk-DEsGbT6e8ksXDIaZFRyn2Ch_byFXSkk1JVEpeYRYpuCJf81oglIp5utpnvBMQjHHZwhUeIGzHLd0Qr5OeUfQ_yvJNkSO1ohd3QEl4N4Fo/s400/JVasconcelos.jpg" /></a><span style="font-size:78%;"> Imagem tirada </span><a href="http://www.ionline.pt/ifotogaleria/18754-13700-joana-vasconcelos-ser-leiloada-pela-christies-foi-fantastico---video"><span style="font-size:78%;">daqui</span></a></div><br /><br /><p align="justify">O mundo de Joana assenta nas rendas, nos bordados, nos paninhos, nas linhas, nos berloques, nos cabelos, nos botões. Assenta nos talheres de plástico, nos tachos, nos espanadores, nas meias, nos comprimidos, nas santinhas, nos objectos diários, nas supostas inutilidades, na caixa vazia, nas formas de todas as formas.</p><p align="justify">O mundo de Joana transporta-nos numa viagem pelo feminino, como no caso de <em>A Noiva</em>, um imenso lustre feito de tampões higiénicos, onde facilmente caímos na tentação de o ler como uma metáfora à sexualidade e fecundidade femininas. Ou na mulher de <em>Burka</em> que se despenha até se estatelar no chão. Ou no sapato da <em>Cinderela,</em> numa provável alusão à mulher-gata-borralheira, cheia de tachos<em>...</em> Ou, ainda, como no caso de <em>Flores do Meu Desejo</em>, um conjunto de suaves e delicados espanadores cuja forma faz lembrar um útero.</p><p align="justify">Este mundo dialoga em permanência e cruza-se em jogos de linguagem que também vão beber à tradição e à história, como no conjunto <em>Coração Independente</em>, num resultado magnífico que faz lembrar a filigrana e os corações de Viana, ou como na carripana apinhada de Nossas Senhoras de Fátima.</p><p align="justify">Mas também é um mundo grande e colorido como em <em>Contaminação</em>, uma alusão à globalização e à sociedade de consumo, ao desperdício. Num mundo que vive assente na imagem, ela pega em objectos do quotidiano, redimensiona-os até atingirem proporções gigantescas e confere-lhes outros significados que não os originais. Recicla-os. Cria outras palavras para outras imagens.<br /></p>Paula Crespohttp://www.blogger.com/profile/15097810207206499668noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-7086507953430401915.post-72648622044026640452010-03-01T12:56:00.009+00:002010-03-01T16:37:15.625+00:00News? What news?!<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHnaFZAB8BGTogch9lp7NivwVTQPnKq1FsJZZBfJDWjQSIolWMXAbpAcf5r8ZRfkncIqrJxJk_cBYSxYzgXzZPliyTRSR6bcvMLcn8HEBRV7ErZMIagd7l2JADF6wR9muAfJoZQUo0Vz0P/s1600-h/sensacionalismo.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 310px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5443638412962922866" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHnaFZAB8BGTogch9lp7NivwVTQPnKq1FsJZZBfJDWjQSIolWMXAbpAcf5r8ZRfkncIqrJxJk_cBYSxYzgXzZPliyTRSR6bcvMLcn8HEBRV7ErZMIagd7l2JADF6wR9muAfJoZQUo0Vz0P/s400/sensacionalismo.jpg" /></a> <span style="font-size:78%;">Imagem tirada </span><a href="http://www.quandonadaenoticia.blogger.com.br/QUANDO%20NADA%20E%20NOTICIA%20(685).jpg"><span style="font-size:78%;">daqui</span></a></div><br /><div align="left"></div><p align="justify">Devia chamar-se Rosa. Ou Ana. Ou ter um nome um pouco mais esticado e responder por Marília. Ou Lucinda. Por que nome dava acordo de si também pouco importa. Importa antes saber que já era velha, usava lenço na cabeça e umas peúgas de lã que apareciam de dentro de uns chinelos. Importa ainda entender que procurava o caminho da normalidade por entre um monte de escombros que uma mãe, a natureza, lhe havia posto à frente e que eram grandes e altos e escorriam lama, o que tornava difícil a caminhada, ainda por cima para esta Ana ou Rosa ou Marília que teimava em preencher o dia com a normalidade interrompida pela catástrofe. Por esta e pelo Luís. Ou seria Nuno? Talvez Francisco ou Pedro. Fosse como fosse, seria um nome de gente muito mais nova do que ela - a Ana ou a Marília.<br /><br />Este Nuno tinha chegado à ilha trazido pela catástrofe. Um filho da mãe, natureza, enviado para este fim-de-mundo alagado e lamacento, para matar a sede que uns têm do sangue dos outros. A natureza criou mais uma vez uma bela oportunidade de negócio. Após a catástrofe ficaram os escombros e a desgraça dos que ficaram sem tecto atrai outros bem recostados no sofá. Isto é mesmo assim, pois os Franciscos também têm de ganhar a vida e pagar o tecto e o sofá lá de casa. E à falta de imaginação ou competência maior, e enquanto não nos chegar outra grande desgraça (que há-de vir com toda a certeza, é uma questão de os Pedros e os seus chefes terem um pouco de paciência), há que fazer render as lágrimas, mesmo quando a hora é já de andar para a frente. E é por esta razão, que tudo dita e que nos diz o que havemos de ver naquele aparelho em frente ao sofá, que o Luís perguntou à Rosa como iria ela conseguir percorrer o caminho até ao que restava da sua casa, ao que esta Ana respondeu, desembaraçada, Subindo por aqui acima, como os outros fazem! E como a Nuno já lhe faltassem ideias para encher mais esta reportagem vazia de novidades, atirou uma derradeira e fundamental pergunta para quem ainda não tivesse entendido bem há quantos anos Marília vivia sobre esta terra e da dificuldade que, manda o bom senso, ela deveria sentir em galgar os pedregulhos do caminho: Diga-me só uma coisa: que idade tem?, ao que Lucinda responde, já de costas viradas, Ai não sei, são tantos que já nem me lembro…<br /><br />E, não sem algum desdém, fez-se ao caminho. Onde quer que este estivesse…<br /></p><div align="left"></div>Paula Crespohttp://www.blogger.com/profile/15097810207206499668noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7086507953430401915.post-48414376407037247622010-01-09T11:37:00.002+00:002010-01-09T11:37:00.555+00:00Sem pés nem cabeça!...<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjNGU-YgUiik4pVuqANwlW9uAjaqEcQkIrokiQFYypCdVaX7KkYkiQxq_Gp-wkcKmW26wo9gf536X-XXLkvA8S9UvvXkxr1yftR9OAAvb7r-IYsKrMYTnrXzwl4ubtFnMg6hZyy6mkB-QJ/s1600-h/calcada_portuguesa.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5423208234454885890" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 267px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjNGU-YgUiik4pVuqANwlW9uAjaqEcQkIrokiQFYypCdVaX7KkYkiQxq_Gp-wkcKmW26wo9gf536X-XXLkvA8S9UvvXkxr1yftR9OAAvb7r-IYsKrMYTnrXzwl4ubtFnMg6hZyy6mkB-QJ/s400/calcada_portuguesa.jpg" border="0" /></a> <span style="font-size:78%;">Imagem tirada </span><a href="http://images.google.pt/imgres?imgurl=http://i.olhares.com/data/big/257/2574001.jpg&imgrefurl=http://br.olhares.com/calcada_portuguesa_foto2574001.html&usg=__Cy37mf1-yJW9B9LIVP0ms0zdQ30=&h=750&w=501&sz=219&hl=pt-PT&start=12&tbnid=fdbTVKkE_mD45M:&tbnh=141&tbnw=94&prev=/images%3Fq%3Dcal%25C3%25A7ada%2Bportuguesa%26gbv%3D2%26ndsp%3D20%26hl%3Dpt-PT%26sa%3DN"><span style="font-size:78%;">daqui<br /></span></a><br /><div align="justify">Quem não recorda o bem-humorado Jô Soares em <em>Viva o Gordo!</em> ? De vez em quando, ocorre-me uma das deixas mais bem conseguidas desse programa – das muitas! -, e dou por mim a repetir para dentro: <em>Esse chão que eu amo, esse povo que eu piso!...</em> E vem esta memória e o seu trocadilho a propósito de, pela enésima vez, ter sentido que esse chão que eu amo não nutre por mim o mesmo sentimento. Só pode! Lisboa, cidade cheia de luz, encanto e muitas outras graças, tem o chão mais "característico" de todos: uma calçada portuguesa, muito bonita, mas esburacada como não há outra. Um verdadeiro rendilhado de buracos, uma espécie de <em>puzzle</em> inacabado. E como para provar que a imaginação não tem limites, este chão desdobra-se em variáveis múltiplas, como, por exemplo, calçadas que quando por lá passamos mais parece que nos equilibramos com muito esforço numa difícil travessia sobre um rio, tentando acertar nas pedras para não cairmos à água. Aqui não há água, antes uns intervalos tão grandes entre cada pedra do caminho, dando a impressão que caminhamos por antigas calçadas romanas. Eu sei que nasci numa cidade repleta de História, mas também não era preciso levar a coisa tão a peito!<br /><br />Imagino que seja o paraíso dos ortopedistas e endireitas! Esta cidade não é feita para <em>ladies</em> de salto agulha; é um chão de machos de sola rasa. Será o choro das pedras da calçada, frase tão portuguesa, a melhor expressão desta realidade? Ultrapassado o trocadilho, aqui fica uma reivindicação: ou a salvação deste chão português ou a salvação dos pés dos portugueses - pelo menos, das portuguesas! ;) - mas, por favor, quem de direito que se DECIDA!</div></div>Paula Crespohttp://www.blogger.com/profile/15097810207206499668noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-7086507953430401915.post-14349378865513420022010-01-07T08:18:00.003+00:002010-01-07T08:18:00.364+00:00Crescer de forma consciente: a desconstrução de um mito<div align="center"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5423285907312426562" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 327px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxTp6-kEQgxY7hEXIEh-ab-INIMR-R4Jx9bcBoApZKZliex6zjp8n0WmyIBiBnvGsbVcBReOczt80iUu2lTUg2OA4Gx6c8v-6Z6S46P7KKnu76Xf6CZcD3MY0IOATgCWFOzdsBs2YuZuY2/s400/educacao-sex.jpg" border="0" /><br /><span style="font-size:78%;">Imagem tirada </span><a href="http://www.infojovem.org.br/wp-content/uploads/2009/06/educacao-sexual400.jpg"><span style="font-size:78%;">daqui</span></a></div><br /><div align="center"></div><br /><div align="center"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><p></p>A educação sexual nas escolas é um tema que já atingiu a maioridade. É, por assim dizer, um jovem adulto que, no entanto, continua iletrado. E iletrado porque, na realidade, nunca o levaram à escola. Desse lugar apenas conhece a entrada ou, melhor dizendo, apenas sabe que a escola existe, sonha com ela até, mas continua a ser o patinho feio das disciplinas leccionadas. Filho de uma família numerosa, com muitas matérias, continua esperando, no fim da fila do fundo atrás das outras disciplinas, as tais que, essas sim, são dignas de verem a luz do dia.</div><div align="justify"><br />A propósito da educação sexual nas escolas – ou da falta dela -, chamo a atenção para uma entrevista de Manuel Damas, sexólogo e formador na área da educação sexual, publicada em <a href="http://www.educare.pt/educare/Educare.aspx" target="_blank">educare.pt</a>. Devo dizer que concordo com tudo o que lá foi dito e que por isso mesmo me escuso de tentar discorrer sobre o tema, dando a palavra a quem percebe do assunto. Apesar da razoável dimensão do texto, não desistam de o ler porque vale bem a pena. <a href="http://www.educare.pt/educare/Detail.aspx?channelid=9E69080D12820D4E9497B31FFB72BB08&schemaid=1CD970AB0836334EB627B1FF128684C3&contentid=7803CC2B7337DB46E0400A0AB8002557&opsel=1" target="_blank"><strong>Aqui fica</strong></a>.</div>Paula Crespohttp://www.blogger.com/profile/15097810207206499668noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7086507953430401915.post-34525885327121057242010-01-05T08:24:00.003+00:002010-01-05T10:45:36.097+00:00Sim ou Não ao referendo?<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1OgkRXvfsVip-efi_t7ZcLW8HujKgLER24jhyphenhyphen3RLwr5wDFSuA_tBpuRtF-ybh_Cw6kwrIIERLBhCEfm74dNYPZ_sVnaDdWJcBZinOBHIHRMA48MH0FcsP8eDYXUENxNkrpEMnHe0K0O2k/s1600-h/vontade-e-consciencia.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5423199875576980994" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 361px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1OgkRXvfsVip-efi_t7ZcLW8HujKgLER24jhyphenhyphen3RLwr5wDFSuA_tBpuRtF-ybh_Cw6kwrIIERLBhCEfm74dNYPZ_sVnaDdWJcBZinOBHIHRMA48MH0FcsP8eDYXUENxNkrpEMnHe0K0O2k/s400/vontade-e-consciencia.jpg" border="0" /></a> <span style="font-size:78%;">Imagem tirada </span><a href="http://acertodecontas.blog.br/wp-content/uploads/2008/02/vontade-e-consciencia.jpg"><span style="font-size:78%;">daqui</span></a></div><p align="justify">A propósito das últimas notícias sobre a possibilidade de um referendo sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo, voltei a ter um pensamento já velho, de recorrente que é. Parece-me óbvio que matérias que se prendem com questões de consciência não podem ser referendadas. Não são, por conceito, referendáveis. E isto porque, se se trata de uma matéria que remetemos para a nossa consciência, e que não é, portanto, matéria objectiva, então estaremos a cortar a possibilidade dos que querem <strong>agir</strong> pelo SIM se o resultado desse referendo tiver sido NÃO. Ou seja, só se pode agir em liberdade, de acordo com a consciência de cada um, se o resultado de um referendo for SIM; caso contrário, não resta ao cidadão qualquer possibilidade de escolha, após o referendo, não será assim?<br /><br />Independentemente da posição que cada um de nós possa ter sobre a matéria, uma coisa é certa: neste género de questões, que se prendem com a consciência de cada um, o resultado de um referendo só é vinculativo se concluir pelo NÃO, já que o SIM não obriga ninguém a agir em conformidade. Quem não concorda com a matéria em causa logicamente que não a seguirá.<br /><br />Certamente que todos já perceberam o quanto um instrumento cívico e de suposta liberdade como o referendo pode ser manipulado e usado para coarctar precisamente a liberdade. Daí que, referendo sim, mas só para temas concretos e objectivos e nunca em questões de consciência. Sob pena de estarmos a interferir na consciência dos outros.</p>Paula Crespohttp://www.blogger.com/profile/15097810207206499668noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-7086507953430401915.post-46452727372255274422009-12-28T12:05:00.001+00:002009-12-28T12:08:33.242+00:00Oxalá<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdTB_uMZdlpa68FDiD7D3NXOY_kQIvCX59JKhfHpfIm3OpUhZ5AAWNl4oyLFWGTZcdYjkjJATLLGGcJCIApVe30zeWp8EwXdqLZtUGbxDJAOfz_6YhFxenkKr_laHeaw0b-T94s4Rpwl_3/s1600-h/feliz_ano_novo2.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5420253583278945378" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 285px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdTB_uMZdlpa68FDiD7D3NXOY_kQIvCX59JKhfHpfIm3OpUhZ5AAWNl4oyLFWGTZcdYjkjJATLLGGcJCIApVe30zeWp8EwXdqLZtUGbxDJAOfz_6YhFxenkKr_laHeaw0b-T94s4Rpwl_3/s400/feliz_ano_novo2.jpg" border="0" /></a><span style="font-size:78%;">Imagem tirada </span><a href="http://img.photobucket.com/albums/v445/iftk2/glitter/feliz_ano_novo2.jpg"><span style="font-size:78%;">daqui</span></a></div><p><span style="font-size:78%;"><span style="font-size:100%;"></span></span></p><p align="justify">Nesta época de <em>Gingle Bells</em>, cada vez com menos espírito e mais matéria, principalmente da que enche as bancas das lojas sempre iguais, aguardo paciente que o espírito desça e me ilumine; e o pior é que ele, cada ano que passa, tarda em descer.<br /><br />De tudo o que se tem inventado sobre esta época e sobre o dito espírito, recordo a propósito uma troca de ideias com alguém que me citava outro alguém que, recentemente, tinha proferido umas curiosas palavras:<br /><br /><em>O Natal não é quando um homem quiser. Ele acontece quando alguém nos quer.</em><br /><br />Fiquei a magicar naquela frase, que foi tomando forma até se me provar ser verdadeira. Ou, melhor dizendo, ser um fim em si mesma, um objectivo. Se ele (Natal)é magia, então não basta pensarmos que conduzimos e lideramos e que tudo acontece por nossa <em>exclusiva</em> iniciativa. Ou melhor, a magia estará na reciprocidade: depende do que o Outro vê em nós o que, por sua vez, depende daquilo que nós lhe daremos a ver.<br /><br />Isto pode parecer meio embrulhado. A culpa deve de ser do excesso de açúcar no cérebro, certamente, fruto desta época… Mas numa altura em que se fazem os tradicionais votos de mudança, à vista de um novo ano que nos bate à porta, talvez o melhor voto seja que consigamos ser capazes de aproveitar as oportunidades que ele nos trará e reconhecer nos pequenos nadas a possibilidade de sermos felizes.<br /><br />Oxalá.</p>Paula Crespohttp://www.blogger.com/profile/15097810207206499668noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-7086507953430401915.post-60568363355906625832009-12-09T18:11:00.004+00:002009-12-28T12:07:51.526+00:00Raios de sol<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXV10bz7cqhNKlJQdZq8x6X1LBzoiRfYj32Zd4jrbqcEgAZnef3YZbkZ3-W6iSkMUbu5ymQuT0Jlsi2up2gcdwszJMamn1jEOigsOauTsskK8nzajSsTxXDEmnbgwNIwGbsAsKd0n2qb9g/s1600-h/sol_e_chuva_0.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5413295186516498722" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 301px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXV10bz7cqhNKlJQdZq8x6X1LBzoiRfYj32Zd4jrbqcEgAZnef3YZbkZ3-W6iSkMUbu5ymQuT0Jlsi2up2gcdwszJMamn1jEOigsOauTsskK8nzajSsTxXDEmnbgwNIwGbsAsKd0n2qb9g/s400/sol_e_chuva_0.jpg" border="0" /></a> <span style="font-size:78%;">Imagem </span><a href="http://colorirdesenhos.com/files/desenhos/sol_e_chuva_0.jpg"><span style="font-size:78%;">daqui</span></a><br /><br /><br /><div align="justify"><em>Nunca tinha cá vindo, apesar de já ter ouvido falar dele</em>. Disse.<br /><br />Terminaram o cigarro à porta e entraram. Escolhidos os prazeres que se seguiriam, fizeram o tempo render, entre garfadas e goles de tinto. O frio de Dezembro deu lugar a um calor servido na travessa e na conversa. De pequenas <em>estórias</em> e outras divagações, das memórias a outros nadas, a partilha marcou presença, no riso e no trocadilho que só eles entendem. <em>Como se chamava o post?</em>, pergunta. <em>Disseste?...</em>, responde. Códigos de um universo restrito que surgem em círculo, na tontura de um tagarelar redondo. E mais risos.<br /><br />É uma sensação morna de aconchego. Sonha-se a parceria, assente nesta base de entendimento. Depois de um inverno interior que havia começado precocemente sabia bem uma tarde ensolarada. Sol de pouca dura, adivinhava-se, que a maré não andava propícia. Mas, e ainda assim, valia a pena saboreá-la. Lembrou-se de um registo antigo que corroborava esta ideia, espelhada numa afirmação de Mick Jagger publicada o ano passado numa revista da especialidade: <em>Não olho para as nuvens de amanhã através do sol de hoje.</em> Ele há gente inteligente! Quando for grande também quero ser assim.</div></div>Paula Crespohttp://www.blogger.com/profile/15097810207206499668noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-7086507953430401915.post-57846753711835062842009-12-07T08:28:00.001+00:002009-12-07T10:15:37.072+00:00Quotidianos do cor-de-rosa<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoI55zGzgY1DDoHZBwWk2FY_3LoQI2RKtl8W2HSy9jCmXdV9rpYaHe5I5YQbz_O-Fqv2-IM32EZkHrYIjOo6AtY-Mr2lorEqFzd2CmWYa2czspWo3WRhGjVlZnML6eVM6bN1pvcg9XyhRq/s1600-h/feminino.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5412435361590798786" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 300px; CURSOR: hand; HEIGHT: 300px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoI55zGzgY1DDoHZBwWk2FY_3LoQI2RKtl8W2HSy9jCmXdV9rpYaHe5I5YQbz_O-Fqv2-IM32EZkHrYIjOo6AtY-Mr2lorEqFzd2CmWYa2czspWo3WRhGjVlZnML6eVM6bN1pvcg9XyhRq/s400/feminino.jpg" border="0" /></a> <span style="font-size:78%;">Imagem tirada </span><a href="http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/foto/0,,19739429,00.jpg"><span style="font-size:78%;">daqui<br /></span></a><br /></div><div align="center"><br /><div align="justify">Saí para comprar bolos e regressei com um candeeiro na mão. Assim mesmo.</div><div align="justify"><br />Desde o tempo em que os animais falavam que andava para comprar um candeeiro para um espaço lá de casa, mas não havia maneira. Ou por isto, ou por aquilo, ou porque não. E todos sabemos como é difícil ter uma ideia feita, bem esculpida, dentro da nossa cabeça, e encontrá-la materializada lá fora, leia-se numa loja, ali mesmo à mão de semear, disponível para a pegarmos e levarmos connosco.</div><div align="justify"><br />Aproveitei uma aberta na chuva de Outono e saí, para comprar bolos. Nem gulosa sou (só por pudins!...), só que nesse instante pensei que um bolo seria um bom remate daquilo a que chamei almoço, um mimo. Mas, pés na rua, e os passos fizeram-me ignorar a pastelaria em questão e puseram-me a subir a calçada. Deve de ser um sintoma típico do cor-de-rosa, do feminino, isto de não ir direito ao assunto, de tornear e dar voltinhas, tropeçando em mil e uma coisas neste ziguezaguear habitual. Espreitei duas lojas de chinês, passei as mãos por umas quantas peças, imitações de outras mais bem acabadas. Olhei em redor e apreciei genericamente o brique-à-braque destes espaços que, em boa verdade, não apresentam grande originalidade, a não ser que aceitemos como original um conjunto infindável de imitações baratas. Olhei para muito e decidi-me por nada.</div><div align="justify"><br />Saí, e continuei a subir a calçada, lembrando-me de que há uma loja de pequenos nadas absolutamente fantásticos, com um certo <em>look</em> neo-pop que sempre me fascinou. Vou passar por lá, pensei. E, como é óbvio, não passei, até porque “descobri” esta outra de candeeiros…</div><div align="justify"><br />Já com a compra realizada e transportando um saco enorme e transparente, voltei ao local de origem, àquele de onde tinha saído com a firme intenção de me mimar com um bolo. Pelo caminho, as imagens do costume: janelas pequenas em rés-do-chão rasteiros, uma velha senhora de óculos redondos encavalitados no sítio que é suposto, fachadas gastas pelo tempo e outros sinais de um bairro antigo e familiar.</div><div align="justify"><br />No final de contas, o mimo foi alcançado. Não o que tinha na ideia mas o outro, mais antigo e consistente. E se me perguntarem se para mim <em>é mais bolos</em>, direi: hum, talvez não!...<br /></div></div>Paula Crespohttp://www.blogger.com/profile/15097810207206499668noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7086507953430401915.post-81389394374271053012009-12-02T12:33:00.003+00:002009-12-03T16:16:41.132+00:00A sentença<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcLWjV6myjUS_YQ0oNiiy0y9bofeJpMAWFIS4C1T9fPWg4yfh-uvKIGcX9GTkDpCKLtzqOvq6tsfFD7q8-630xbGeak_9ToDfQbsXip47I12j8J1zdtN8Wp_UBAe-a8drfG4Gaz9lWaKgA/s1600-h/sentenca.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5410612605000946642" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 359px; CURSOR: hand; HEIGHT: 321px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcLWjV6myjUS_YQ0oNiiy0y9bofeJpMAWFIS4C1T9fPWg4yfh-uvKIGcX9GTkDpCKLtzqOvq6tsfFD7q8-630xbGeak_9ToDfQbsXip47I12j8J1zdtN8Wp_UBAe-a8drfG4Gaz9lWaKgA/s400/sentenca.jpg" border="0" /></a> <em><span style="font-size:78%;">Imagem tirada </span></em><a href="http://www.luizberto.com/wp-content/martelo_juiz.jpg"><em><span style="font-size:78%;">daqui</span></em></a></div><br /><div align="justify">Maria, jovem casadoira de uma família de seis rebentos. Antero, jovem igualmente casadoiro e promissor, galante e galado. Ambos respiram o ar da mesma vila do interior, um ar que percorria os anos cinquenta do século anterior. Tempos passados.</div><div align="justify"><br />Maria e Antero trocam olhares e suspiros e sonham sonhos que guardam para si. Aos poucos, esses mesmos sonhos vão-se tornando públicos e aceites por ambas as famílias, a dos seis rebentos e a outra, da qual não há memória de quantos ramos teria.</div><div align="justify"><br />Antero, o jovem galante e promissor, atreveu-se a sair da redoma daquela vila do interior e arriscar-se até outra vila do litoral, em negócios que também fariam certamente parte dos seus sonhos, sonhos de alcançar um bem-estar maior, um estatuto maior, ser dono e patrão e poder regressar à vila do interior e resgatar Maria para ser sua dona e patroa e.<br /><br />O tempo foi passando e os sonhos de Maria e Antero registavam-se em cartas, muitas, trocadas num vaivém lento entre o interior e o litoral, um vaivém curto, já que estreito é também o país.</div><div align="justify"></div><div align="justify">O tempo foi passando e Antero aventura-se por outros territórios, descuida-se, distrai-se, retarda-se no seu sonho maior de resgatar Maria e, sem aviso nem querer, surge uma nova realidade na sua vida, uma nova vida, pequena, que chora e mama, de uma outra mãe que não a tão amada.</div><div align="justify"><br />A notícia segue o seu curso no vaivém lento, desta vez em sentido único, do litoral para o interior. Aí chegou e sepultou-se. Caiu como um petardo, provocando estragos irreparáveis. Entre lágrimas e desilusões, soa a sentença da <em>mater família</em>, uma mãe pequena e austera, dura, talhada pela vida agreste de ter de dar rumo sozinha aos seis rebentos por si gerados. “Ele que pague a quem deve!” Eis o dedo acusador, a profecia maldita, o corte abrupto dos sonhos de Maria e Antero. Ele tinha viciado as regras do jogo, as mesmas que ditavam um comportamento vincado e irrepreensível e outras duras regras impunham que o seu vício fosse limpo pela assinatura de um contrato de casamento com aquela que não dormia nos seus sonhos, mas que lhe tinha dado esta nova pequena vida que chorava e mamava e teimava em crescer. E assim se reporia a <em>verdade dos factos</em> e se tapariam as bocas do mundo.</div><div align="justify"><br />Sentença cumprida. Ele permanece no litoral, cresce no seu sonho de patrão e mingua no seu sonho de amor. Adapta-se, talvez. Ajusta-se. Sempre que encontra um familiar dela, por mais afastado que seja, conduz a conversa com um brilho nos olhos e pergunta por novidades. “Está bem? É feliz?”. Feliz não foi, arrecadada mais tarde por outro, viúvo e instalado na vida. Arrumou-se, como se usava dizer à época.</div><div align="justify"></div><div align="justify">Arrumou o sonho e fechou-se dentro de casa. Deixou de ser, antes mesmo de ter conseguido sê-lo. Afável, doce e laboriosa, viu chegarem os cabelos brancos e abalar-se-lhe a voz. Morreu há muito, de leque na mão, numa cama de hospital. Com falta de ar. Teria feito quase cem anos, no dia das castanhas. </div>Paula Crespohttp://www.blogger.com/profile/15097810207206499668noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7086507953430401915.post-75994726921628880712009-11-23T12:10:00.001+00:002009-11-23T12:28:50.681+00:00When I'm sixty-four...<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIJ0flUUERUouHd7gUqhMndT0fTnH2xggg66R616muMNTpGHGs6QTm5d_YqoNFRBtz127v1Qbh9aqW77EKaVWZ6SQWVeIU894mXAT6mYiwOJzN9PIdH9SgITQWbA-ztbNNLK_1myylr8qI/s1600/namorados_idosos.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5407269965549721218" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 205px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIJ0flUUERUouHd7gUqhMndT0fTnH2xggg66R616muMNTpGHGs6QTm5d_YqoNFRBtz127v1Qbh9aqW77EKaVWZ6SQWVeIU894mXAT6mYiwOJzN9PIdH9SgITQWbA-ztbNNLK_1myylr8qI/s400/namorados_idosos.jpg" border="0" /></a> <span style="font-size:78%;">Imagem tirada </span><a href="http://rmtonline.globo.com/banco_imagens/namorados/namorados_idosos.jpg"><span style="font-size:78%;">daqui</span></a><br /><p></p><p align="justify">Viajavam de Turim para Milão. Dois italianos, de pele e cabelo brancos e olhos claros. Um homem, outro mulher. Viajavam, seguiam em frente pelas suas vidas. Viajavam embalados pelo ritmo monocórdico do comboio e seguiam felizes, tranquilos.<br /><br />Ela encostava-se-lhe ao ombro, aconchegava-se. Tinha um semblante de avozinha, calmo, sereno, aninhada que estava como um gato, aceitando a protecção desse encosto. Ele, igualmente feliz naquela serenidade da partilha, avançava pausadamente na conversa, de forma tão pausada que me era permitido entrar por ela dentro sem que a língua estranha erguesse qualquer barreira. Completamente clara e transparente, como se da minha se tratasse.<br /><br />Ele ia-lhe contando o que se vai passando pelo Mundo, esse mundo endiabrado e confuso. Explicava-lhe as notícias, desdobrando-lhe as ideias de modo a que ela as compreendesse. Ela, numa espécie de torpor morno e adocicado, lá ia ouvindo, aparentando um interesse muito moderado, embalada pela voz dele que, essa sim, era o seu presente e a sua realidade e aquilo que lhe aquecia o espírito. Ele oferecia-lhe, ainda, pequenos nadas da sua vida passada: “este relógio que a minha mulher me ofereceu…” ou ainda “quando fiz aquele passeio na montanha…” Momentos que decerto ela não partilhou, mas que vive agora através do som daquelas palavras e que imagina, compõe cenários, acrescenta tons, cria enquadramentos. Tenta compreender.<br /><br />Atrevi-me a traçar o perfil daqueles dois seres felizes que viajavam à minha frente e que durante duas horas partilharam comigo um momento das suas vidas. Fui uma personagem passiva e silenciosa, que os fitava e inevitavelmente ouvia. Não seriam um casal, daqueles com papel passado e registo oficial; antes seriam dois namorados. Antigos ou recentes não o adivinhei, mas de certeza que namorados seriam, pois não sofriam do pó do tempo e do desgaste que o quotidiano deixa nas longas vidas em comum. Pelo contrário, viviam momentos de ternura, dos tais que a tradição não nos habituou a testemunhar em pares desta idade. A muito custo, desviava de tempos a tempos o meu olhar comprometido desta felicidade sénior, e um sentimento de pequena inveja, o desejo do <em>também quero</em>, ia crescendo dentro de mim.<br /><br />Resta a esperança de que o sorriso é possível numa qualquer idade. <em>Will you still need me, will you still feed me, when I’m sixty-four?...<br /></em></p></div>Paula Crespohttp://www.blogger.com/profile/15097810207206499668noreply@blogger.com22tag:blogger.com,1999:blog-7086507953430401915.post-76171913105680735852009-11-04T14:27:00.004+00:002009-11-06T17:31:17.236+00:00Baços brilhos...<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEQq9QGsppzhJo9w0PJR0Dl67d3dAiUrtkKvLCtzNxGttDiB9wx5hxBK-7BfLReF1jnbZmajMs0qgBEf-4N2JX90e-TI9fZHqpZ_ZtUMDvOgFHEmaTx_-KWXo8o9cHAfV1NVDIFUfvlv05/s1600-h/vampe.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5400275492961189218" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 300px; CURSOR: hand; HEIGHT: 323px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEQq9QGsppzhJo9w0PJR0Dl67d3dAiUrtkKvLCtzNxGttDiB9wx5hxBK-7BfLReF1jnbZmajMs0qgBEf-4N2JX90e-TI9fZHqpZ_ZtUMDvOgFHEmaTx_-KWXo8o9cHAfV1NVDIFUfvlv05/s400/vampe.jpg" border="0" /></a><span style="font-size:85%;"> (imagem tirada da </span><a href="http://www.guldenkunstverk.com/sider/bilde.aspx?w=300&src=/guldenkunstverk/bilder/45mijo-la-vampe.jpg"><span style="font-size:85%;">net</span></a><span style="font-size:85%;">)</span><br /><br /><div align="justify">A vírgula entrou singela, altaneira, no seu vestido coleante. Desliza pela sala, dengosa. Recosta-se num sofá, com ar absorto e distraído.<br />"Vamos dançar?", pergunta. Ele. Baixo e atarracado, como que carregando sempre um peso sobre a sua cabeça. Vestido de preto, com ar um tudo nada fora de época, há muito que se tinha habituado a ver os outros de costas, rumando em direcção contrária à sua, desprezando-o e ignorando a sua presença. Ou, noutros dias e noutras horas, chamando-o para tarefas que não eram as suas, confundindo-o com outros parceiros, subalternizando-o.<br /><br />Ela, sempre muito atarefada, sendo constantemente chamada a figurar em qualquer cenário, sempre presente. Ela, olhando-o de baixo para cima – não muito, dada a pouca estatura dele, coitado! – abriu um sorriso estreito e descorado, para deixar através dele escorregar um desinteressante “Não, obrigada…”<br /><br />“É o costume”, pensou ele. Arrastou-se até ao balcão, pediu um gin e ficou a observar quem entrava. Viu aproximar-se aquele desmiolado do ponto de exclamação. Alto e magro, elegante até, não passava despercebido naquele círculo de acentos e letras desencontradas. Em tempos constou que tinha tido uma infância atribulada, e uma vida com questões mal resolvidas. Mantém sempre aquele ar admirado, espantado mesmo. “Bahh, mais parece um miúdo hiperactivo…”, concluiu o ponto e vírgula, “nunca entendi porque lhe dão tanta importância…”<br /><br />Olhou na direcção do sofá onde ela permanecia recostada, agora acompanhada por dois pontos. “Sempre iguais, estes dois”, pensou, abanando levemente a cabeça. “Desde que os conheço que andam sempre juntos, inseparáveis, um verdadeiro Dupond e Dupont…"<br /><br />Viu-a levantar-se e sorrir. Os dois pontos permaneciam no sofá, agora um pouco abandonados à sua sorte. Ela, a vírgula, altaneira, deslizava no seu vestido coleante e cumprimentava, dengosa, o travessão e os parênteses. Desdobravam-se em elogios e sorrisos, trocavam olhares cúmplices e gulosos e ela, olhando ora para um, ora para outro, começava a sentir uma leve tontura na sua cabeleira farta e loura, sem se decidir a qual prestar maior atenção. “São tão parecidos”, coube-lhe agora pensar, “quase se confundem…”<br /><br />Ao fim de meia-hora de trivialidades, a vírgula voltou para o seu sofá, abriu a bolsinha da maquilhagem e retocou o rosto, onde leves traços se vincavam já. “Há que manter o brilho”, gracejou para si própria.<br /><br />Ergueu a cabeça e os seus olhos procuraram os outros acentos. Naquela confusão de letras soltas lá os vislumbrou, ao fundo da sala, por entre uma atmosfera já pesada de fumo, aos seus admiradores, que se derretiam agora perante a nova frase da moda, que acabara de entrar. "Novos brilhos", pensou ela…</div></div>Paula Crespohttp://www.blogger.com/profile/15097810207206499668noreply@blogger.com16tag:blogger.com,1999:blog-7086507953430401915.post-10447093360317521272009-10-19T12:02:00.005+01:002009-10-19T12:15:24.726+01:00Entre nós...<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzei1Br-BYKBeQgKLzz-C48ID25SEI5iP4PMmYkdwyxxBWm29PlQF_qPkwf1ub0l8-sAWuxuW1AK5Qc6yACCZFoQKY8rOt734-dZcHI9tfoMlfdwuGRTw3T7idZ9R0FCynvrJca7Xlvlrb/s1600-h/varanda.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5394264823302878882" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 300px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzei1Br-BYKBeQgKLzz-C48ID25SEI5iP4PMmYkdwyxxBWm29PlQF_qPkwf1ub0l8-sAWuxuW1AK5Qc6yACCZFoQKY8rOt734-dZcHI9tfoMlfdwuGRTw3T7idZ9R0FCynvrJca7Xlvlrb/s400/varanda.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify">Fez ontem um mês que T. partiu alegremente para T., em I. Não interessa escancarar aqui a geografia dos nomes e lugares: quem sabe, sabe e a quem desconhece também nada muda. Há-de regressar em breve, mais completo. Necessariamente. Fica por enquanto a saudade, apesar da alegria da certeza de que vive bons momentos. E veio-me à memória, não uma frase batida como diz a canção, mas <a href="http://umaespeciedemim.blogspot.com/2009/01/hoje-o-primeiro-dia-do-resto-da-tua.html"><strong>um texto de T.</strong></a>, que me inspirou este outro à laia de resposta, mais curto, mas intenso:</div><div align="justify"><br /><em>Se eu fosse uma esferográfica, rabiscaria palavras de saudade e ternura,</em></div><div align="justify"><em>Pintaria com cores garridas a tua imagem, para que os outros vissem aquilo que nunca esquecerei,</em></div><div align="justify"><em>Traçaria uma linha que encurtasse a distância que vai de mim a ti.</em></div><div align="justify"><em>Se eu fosse uma esferográfica, brilhante como tu gostavas quando eras criança.................</em></div><div align="justify"><em>Se.</em></div>Paula Crespohttp://www.blogger.com/profile/15097810207206499668noreply@blogger.com13tag:blogger.com,1999:blog-7086507953430401915.post-15838304374975834642009-10-16T12:22:00.006+01:002009-10-16T16:01:31.048+01:00Os abraços de Pedro<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjM-PCRejlEQGExkSXKtu_Ec1H4DR76opaTlx7YKCbqzOD8VsatR_s1Yv0eHP1_zOiPQl7EZzIzvY7yUnBzbK40UU6m-3EzPD8IldmtMS0qmq-GavANdIH2pVJe49I8AEAUg7K_MS2VPFxu/s1600-h/alm.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5393157828477911234" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 390px; CURSOR: hand; HEIGHT: 260px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjM-PCRejlEQGExkSXKtu_Ec1H4DR76opaTlx7YKCbqzOD8VsatR_s1Yv0eHP1_zOiPQl7EZzIzvY7yUnBzbK40UU6m-3EzPD8IldmtMS0qmq-GavANdIH2pVJe49I8AEAUg7K_MS2VPFxu/s400/alm.jpg" border="0" /></a><br /><div><div align="justify">Falar de Almodôvar é um exercício estafado, de tantas vezes feito. Falar da sua <em>pintura</em> de cores garridas e tons quentes, escaldantes mesmo, também não é nada de novo. Falar de como este espanhol excêntrico nos mostra uma Espanha (será que é só Espanha?... Claro que não) de habitantes impetuosos, com sangue do Sul e vidas cheias de emoções várias e choros desvairados, apenas sublinha o óbvio das suas personagens, o que está visível a olho nú.<br /><br />Mas este último filme do cineasta é algo mais do que isso. Estes <strong><em>Abrazos Rotos</em></strong> são um registo de maior maturidade, em que se mantêm os ícones característicos de Almodôvar – as suas cores e emoções -, mas em que todos os aspectos cinematográficos sofreram, a meu ver, um <em>upgrade</em> notável: a estética muito cuidada, nos seus laivos neo-pop, em que os cenários rimam com um guarda-roupa a condizer; os planos que acentuam o drama vivido pelas personagens; os ângulos bem escolhidos; os diálogos bem articulados e uma construção da narrativa que, apesar de sinuosa, orienta o espectador através de uma história densa.<br /><br />Os críticos da nossa praça parecem não aplaudir estes <strong><em>Abraços</em></strong>. Dizem que o realizador está nostálgico de si próprio e que o filme não passa de um drama intelectualizado. Quem sou eu para os contradizer? Ninguém, apenas alguém que saiu da sala de cinema com a satisfação de ter visto se não o melhor pelo menos um dos melhores filmes de Almodôvar. Um mimo!<br /><br /><object height="344" width="425"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/G5OFGv-P0Uo&hl=pt-br&fs=1&"><param name="allowFullScreen" value="true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><br /><embed src="http://www.youtube.com/v/G5OFGv-P0Uo&hl=pt-br&fs=1&" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object></div></div>Paula Crespohttp://www.blogger.com/profile/15097810207206499668noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-7086507953430401915.post-54996176001274366172009-07-22T22:52:00.005+01:002009-07-23T11:32:22.153+01:00Mr. Right e Mr. Right Now<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzlOh4uooIBX0V5RMuFU6ppl3fNI4kTuHKdlIkgdMANnADkMcNvNRhKRxQeKT6E-C67H8KDkG16_bjm0jA11683hnDyJ8BRkGaZsEyZUYCdYcy2Hsjis6TFieiuL_VGWUBUFJPTvj2Fc5_/s1600-h/mr_right.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5361406025645015730" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 361px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzlOh4uooIBX0V5RMuFU6ppl3fNI4kTuHKdlIkgdMANnADkMcNvNRhKRxQeKT6E-C67H8KDkG16_bjm0jA11683hnDyJ8BRkGaZsEyZUYCdYcy2Hsjis6TFieiuL_VGWUBUFJPTvj2Fc5_/s400/mr_right.jpg" border="0" /></a><span style="font-size:78%;"> Imagem da </span><a href="http://blogs.marinij.com/katwilder/images/wilder%20perfectman.jpg"><span style="font-size:78%;">Internet</span></a><span style="font-size:78%;">.</span></div><p align="justify"><br />Vislumbrou o conceito numas páginas cor-de-rosa, das tais que raramente partilhavam a sua proximidade. Mas de quando em vez lá calhava, como há dias, quando uma colega lhe pousou aquelas duas revistas em cima da mesa a pretexto de uns artigos sobre os temas do costume. Os temas do costume… amor, sexo, moda, spas… e mais amor e sexo e moda e…</p><p align="justify">A alma gémea. Conceito velhinho este! Velhinho e matreiro, porque impõe tantas regras e é tão exigente que, não raramente, se traduz numa alma sem corpo, em alguém que dificilmente existe ou, a existir, habitará espaços tão distantes que só por acaso alguém lhe põe a vista em cima.</p><p align="justify">Esta alma gémea, que por aqui passou a designar-se por Mr. Right, não terá necessariamente que ser um dos inquilinos do Olimpo, se bem que muitas vezes assim pareça, pois normalmente tende a ser perfeito, tanto na aparência como nas qualidades exigidas. Aquelas com que todos nós nos identificamos, por mais arestas que tenhamos. Mas, se analisarmos bem esta alma gémea, ela fala-nos de alguém que funciona mais como um espelho de nós próprios, ou seja, como alguém muitíssimo parecido connosco. Logo, e por esta ordem de ideias, ela será alguém alto ou baixo, magro ou gordo, bonito ou feio, interessante ou nem por isso. Consoante a nossa própria imagem.</p><p align="justify">E é aí que Mr. Right Now tomou forma. Embrulhado em páginas cor-de-rosa, saído de uma entrevista/reflexão, ele é um sério candidato a destronar o anterior Mr. Right, também conhecido por príncipe (ou princesa) encantado(a). Mr. Right Now, esse sim, muito mais próximo de uma real alma gémea, mais plausível e, sem dúvida, mais compensatória. Este eternamente procurado “outro” (o Mr. Right) é, afinal, o Mr. Right Now, aquele que é compatível connosco e que pode até habitar vários seres e surgir em vários momentos da nossa vida (o que para quem não acredita na reincarnação da alma, esta é, sem dúvida, a única reincarnação possível). Um Mr. Right Now companheiro, que existe aqui e agora, que partilha das mesmas aspirações e dos mesmos gostos. Que ri connosco. Que partilha o quotidiano e nos ajuda nos pequenos nadas. Que, e parafraseando as autoras iniciais desta reflexão, se encaixa na nossa vida e nós na dele. Com os defeitos e qualidades que rimam connosco.</p>Paula Crespohttp://www.blogger.com/profile/15097810207206499668noreply@blogger.com19tag:blogger.com,1999:blog-7086507953430401915.post-17561781385137826992009-06-17T11:20:00.004+01:002009-06-17T11:27:38.107+01:00Mimos de ouro<p><object height="344" width="425"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/KaWhCGTnvAQ&hl=en&fs=1&"><param name="allowFullScreen" value="true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><embed src="http://www.youtube.com/v/KaWhCGTnvAQ&hl=en&fs=1&" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object></p><p align="justify">Saiu de um, ainda com os sons desvairados na cabeça, para correr para outro espectáculo. Que o primeiro tinha sido uma experiência absolutamente arrebatadora, que começava devagar para crescer, imparável, preso numa espiral sufocante, sempre redonda, sempre em círculo…</p><p align="justify">Assim, correu para a outra sala a pouca distância da primeira. Comprou o bilhete e correu, uma vez mais, para engolir o pão que lhe adormeceria a fome e lhe permitiria concentrar-se noutro som e noutras imagens, bem diversas das que enchiam a primeira sala rendida àquele som religiosamente alucinado.</p><p align="justify">Sentou-se e esperou. Sentou-se e apurou os sentidos. Sentou-se e deixou-se invadir pela voz de veludo que a abraçava, que tudo e todos envolvia, remexendo velhas músicas desta vez maquilhadas por uma orquestração que só lhes dava nova morada para o sentimento de sempre. Dá gosto, pensou. E pensou mais ainda. Pensou que estava perante a versão masculina da Diva, da Senhora do fado. Pensou também que, de certo modo, ela perpetuava-se não através de uma mulher, como esperado, mas sim pelo timbre grave e sério e seguro desta voz de homem que, timidamente, se apresentava perante a plateia que o aplaudia de pé, uma e outra vez.</p><p align="justify">Saiu para a noite quente, reconfortada. Saiu com um sorriso na boca e um som de qualidade na alma. Saiu para o abraço apertado que coroava esta noite quente cheia de música. Saiu…</p><p align="justify"><span style="font-size:85%;"><em>(Outros comentários a este concerto em “</em></span><a href="http://ohomemqueviveuduasvezes.blogspot.com/2009/06/carta-branca-camane.html" target="_blank"><span style="font-size:85%;"><em>Carta Branca a Camané</em></span></a><span style="font-size:85%;"><em>”…)</em></span><a href="http://ohomemqueviveuduasvezes.blogspot.com/2009/06/carta-branca-camane.html" target="_blank"></a></p>Paula Crespohttp://www.blogger.com/profile/15097810207206499668noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-7086507953430401915.post-9027732126272905802009-06-15T18:13:00.004+01:002009-06-15T18:25:33.045+01:00A reinvenção do circo<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXHpXLD4VQ3efj_vb8_xdiQiw7zUz-NpyXJ-7tH43-SpyJPQAPUuGS-aTTAtwP-gQY-Hk8sravNTkmKBxO7tZI89_iMI2WDK5Vie5cHrUranvqGuQNVEFA5ZfUxaaMh_rfBmvyThCVySWr/s1600-h/VarekaiParqueTejo.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5347605758899069698" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 190px; CURSOR: hand; HEIGHT: 190px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXHpXLD4VQ3efj_vb8_xdiQiw7zUz-NpyXJ-7tH43-SpyJPQAPUuGS-aTTAtwP-gQY-Hk8sravNTkmKBxO7tZI89_iMI2WDK5Vie5cHrUranvqGuQNVEFA5ZfUxaaMh_rfBmvyThCVySWr/s400/VarekaiParqueTejo.jpg" border="0" /></a>De animação de rua ao estrelato das <em>tournées</em> internacionais. Vinte e cinco anos a crescer e a amadurecer a ideia de reinvenção do circo. Magia pura, transposta em cor, música e, sobretudo, alegoria. Uma espécie de viagem ao nosso imaginário, uma viagem executada na perfeição dos cenários e da performance. Imperdível, sem dúvida. </div><div align="justify"><br />Aqui fica uma pálida ideia do <strong><em>Varekai</em></strong>, último espectáculo do <em>Cirque du Soleil</em>, que me deliciou durante uma bela tarde de domingo e que conta a história do renascimento de um anjo depois de ter caído numa floresta mágica localizada no topo de um vulcão. </div><div align="justify"><br />Palavras para quê? São artistas… de todo o mundo!<br /></div><p align="left"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMzdRqVk9Bo3iqLmJ2ThC6P-D5SjlrPyd8XAon9OjxyKAcZQCMMfA2Vu-b6t0GuX6lmUH9z9NgAfFwKDCBPRveqiJK0YdHaUiPeRbI9ImBc6Vh3QAHWRh2CMjlMi7HnQoZdNdDvcEMftXJ/s1600-h/VarekaiParqueTejo.jpg"></a></p><br /><br /><object height="344" width="425"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/k2HBTxyz9uU&hl=pt-br&fs=1&"><param name="allowFullScreen" value="true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><embed src="http://www.youtube.com/v/k2HBTxyz9uU&hl=pt-br&fs=1&" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object>Paula Crespohttp://www.blogger.com/profile/15097810207206499668noreply@blogger.com4