quinta-feira, 29 de maio de 2008

Sã qui turo zenta pleta...


Sã qui turo zenta pleta - KingsSingers & L'Arpeggiata

A qualidade da imagem deste vídeo contrasta largamente com a qualidade das vozes e da música tocada. Conseguir aproximarmo-nos desta interpretação, mesmo que ao de leve, é o objectivo do Coro a que tenho o prazer de pertencer. Este é um tema que temos trabalhado ultimamente - uma canção de ninar, em crioulo guineense, extremamente bonita.

Não há dúvida que quem sabe, sabe...

sexta-feira, 23 de maio de 2008

E toda a ganância será castigada...

... E não será esta a moral de todos os filmes de aventura? A caça ao tesouro, seja ele o ouro ou o conhecimento e poder absolutos, em que o herói - porque inteligente, sensato e sensível às coisas do passado - compreende que mais vale preservar os tesouros antigos em vez de tirar deles partido em proveito próprio. Se não for esta a moral de todos os filmes de aventura é, pelo menos, a desta saga.

O regresso do herói, após cerca de duas décadas de hibernação. Um dos aspectos que mais me atrai na saga é a opção por um enredo analógico, em contraposição com o digital dos recentes filmes de entretenimento. Justificado talvez pela datação dos primeiros filmes, nos inícios de 80, em que o recurso aos efeitos especiais era apenas emergente e ainda não estava tão desenvolvido. Mas, e apesar disso, muito mais uma opção estética do que propriamente técnica, penso eu.

Spielberg mantém a velha fórmula, com as inúmeras sequências de mirabulantes perseguições e cenas de pancadaria e soco em abundância. O um contra todos, o bem contra o mal. À mistura, pinceladas dos velhos gags, pequenas notas de humor que tão bem caracterizavam esta série de aventura. Não deixa de ser enternecedor ver que, nos dias de hoje, se fez um filme com base nos velhinhos ódios da Guerra Fria, se ressuscitou o cliché, assistindo-se à condenação dos russos perante a "moralidade branca" dos americanos... Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, e este argumento - que já não convence ninguém - serve de cenário a mais uma aventura de Indy, o herói charmoso e inteligente que qualquer um de nós acompanharia até ao fim do mundo...

Reviver o passado em Indiana Jones: se não nos faz mais saltar na cadeira nem suster a respiração, tem, no entanto, o brilho suave da nostalgia. Uma doce lembrança.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

La Sconosciuta

Irena, 32 anos. Imigrante ucraniana em Itália. Só, triste, sofrida, compenetrada. Enigmática. Determinada. Recém-chegada à fictícia cidade italiana de Velarchi, Irena procura trabalho como empregada doméstica, mas não numa qualquer casa: ela persegue um objectivo concreto. Aos poucos, vai-se aproximando, insinuando-se junto da família de Dornato Adacher, um dos muitos ourives da cidade, que mantém com Valeria, sua mulher, um casamento instável e sem brilho.

Para esta mulher, que foge da violência extrema, os meios justificam os fins, o que não faz dela uma personagem negra; antes pelo contrário. O seu passado é-nos servido em flashback, compondo a personagem e traçando-lhe o perfil. Do antes compreende-se o agora. A ansiedade e a amargura de Irena, a sua obsessão, a sua busca incessante, faz adivinhar um final infeliz que se liga ao seu passado trágico: prostituta, torturada, humilhada e ofendida em todos os sentidos, despojada da sua identidade, ela foi "boa de cuspir" - lembrando Chico Buarque. Do seu único amor nasceu uma filha, que ela julga ver na pequena Tea, a filha do casal Adacher...

Uma incursão pelo mundo negro da prostituição: mulheres e mães de aluguer, sem rosto e sem alma. Sem identidade. Mulheres que, como Irena, carregam demasiado passado e escasso futuro.

Um filme de Giuseppe Tornatore, o realizador do mítico Cinema Paraíso. Com uma atmosfera densa, de trama complexa; com banda sonora de Ennio Morricone que tão bem encarna o espírito do filme e uma interpretação bem "por dentro" desta Desconhecida, a cargo da actriz russa Kseniya Rappoport.


quarta-feira, 14 de maio de 2008

Mucha

Às voltas com fotografias antigas e memórias de viagens, encontrei os vestígios de uma ida ao Museu de Alfons Mucha, em Praga.
Aqui fica uma pequena homenagem a um artista de que gosto.

Alfons Maria Mucha (Ivancice, 24 de Julho de 1860 — Praga, 14 de Julho de 1939) foi um ilustrador e designer gráfico checo e um dos principais expoentes do movimento Art Nouveau. Entre seus trabalhos mais conhecidos estão os cartazes para os espetáculos de Sarah Bernhardt realizados na França de 1894 a 1900 e uma série chamada Épicos Eslavos entre 1912 e 1930. (fonte: Wikipedia)

Da sua incursão pela fotografia deixo aqui uma janela, para espreitar...











segunda-feira, 5 de maio de 2008

O menino de sua mãe...

Pepo, pipoca, pimpas, pimpolho e todos os pequenos nomes que reflectem um grande amor. Ou somente Pedro. Para esta criaturinha com tanta alegria de viver. Para o meu pequenino, o meu benjamim, que hoje já faz 15 anos, um beijo do tamanho do mundo...
Parabéns, meu AMOR!

domingo, 4 de maio de 2008

Mãe

No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe!

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos!

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais!

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura!

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos...

Mas tu esqueceste muita coisa!
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -,
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
"Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal..."

Mas - tu sabes! - a noite é enorme
e todo o meu corpo cresceu...

Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas...

Boa noite. Eu vou com as aves!


Eugénio de Andrade, in Antologia Breve