sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Forever young ou o síndroma de Peter Pan


Imagem tirada daqui


Mas é sexta-feira. Pior do que isso, é sexta-feira à tarde, um tempo em que ninguém tem vontade para reflexões.

O mote foi-me dado pela peça de teatro que vi ontem, Terra do Nunca, inserida no festival Entre Mitos, de Oeiras. Quatro actores brasileiros que no palco fizeram maravilhas e, de uma forma aparentemente descontraída, puseram em cima da mesa o tema talvez mais actual que possamos imaginar: a pior doença do nosso tempo é a velhice, o grande estigma, a única que verdadeiramente se esconde.

Como se anuncia na sinopse da peça, o tema tem por base a busca da juventude eterna através de uma abordagem transversal. Este espectáculo procura reflectir sobre como, actualmente, todos de todas as idades querem incluir nas suas vidas o repertório jovem de produtos culturais, roupas, hábitos, gírias e amantes. A dramaturgia mistura referências numa meditação cénica, sobre este nosso bizarro, belo, audacioso e perigoso ímpeto de ser jovem para sempre.

E, assim sendo, não cresço nem envelheço; simplesmente DURO. Congelo a minha imagem e brinco com o tempo, faço-lhe orelhas moucas, ignoro-o. No fundo, temo-o porque o sei incontornável e, por isso mesmo, finjo ignorá-lo. Não cresço nem envelheço porque me recuso a acrescentar ao meu rosto, ao meu corpo e à minha rotina as marcas do tempo e da apendizagem. Porque, deliberadamente, me cristalizo nesse momento ideal que julgo ser a juventude ou pouco mais do que ela, me desresponsabilizo, sigo em frente de olhos vendados sem projecto algum que não seja viver os códigos ditos jovens, divertir-me e não pensar.

Forever young, I'm gonna be forever young...

Nem sequer "adolescemos" mais, porque não transformamos nem inovamos, como seria próprio da adolescência, nem pretendemos mudar nada. Apenas queremos manter a nossa imagem eternamente... jovem??...

Fotografei você na minha rolleiflex / revelou-se a sua enorme ingratidão...*

Terra do Nunca. É esse o nome da peça levada à cena, numa clara alusão a Peter Pan. Talvez porque nunca é o contrário de sempre (ex: vais estar sempre ao meu lado; vou amar-te para sempre, etc.). E, então, caminhamos em direcção ao nunca, uma espécie de negação deste sempre que parece amarrar-nos, agrilhoar-nos, comprometer-nos.

Parabéns a Ivan Sughara e Amigos, pelo magnífico momento de teatro e reflexão. Mesmo.

Mas, obviamente, esta reflexão não estará concluída (alguma vez o estará?...) sem antes considerarmos o modelo das gerações anteriores, ao qual nos propomos opor. Elas pareciam caminhar em frente, assumindo as responsabilidades naturais da vida, mas carregando um cinzentismo que nós, actualmente, rejeitamos. E não será de rejeitar? Claro que sim, já que a vida é para ser vivida e, de preferência, a cores. Mais uma vez, há que procurar o ponto de equilíbrio e aceitar que a aprendizagem deixa marcas e entendê-las como troféus. O problema é que não estamos a ser educados nesse sentido e, assim sendo, esse equilíbrio anda longe. Dão-se alvíssaras a quem o encontrar.

* Verso da canção Desafinado, de Tom Jobim.