terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Dos sonhos aos Reis…



Tinha a mesa posta desde a Consoada. A mesa onde raramente comia, reservada para as visitas, raras, mas por quem sempre se ficava à espera que aparecessem, Quem sabe não aparece por aí alguém hoje…, pensava e dizia, de si para si.

É tempo de Festas, das tais que nos trazem bolos e tradições e memórias. Tempo de arroz doce e filhoses, bolo-rei e sonhos. Vários. Sempre gordos e com muito açúcar e canela, daqueles que nos dá prazer lambuzarmo-nos e carregarmos depois o sentimento de culpa da certeza de mais uns quilos no corpo.

Tinha a mesa posta desde o 24, desde a Noite, a tal, e assim permanecia até ao Dia de Reis. Quem sabe não aparece por aí alguém hoje…, voltava a pensar. E escutava o tiquetaque do relógio de parede, cadenciado nas horas, as completas e as meias, e depenicava uma noz, de quando em vez.

Ela, a outra, cresceu a ouvir o tiquetaque do relógio de parede, que fazia companhia à mesa posta com os sonhos e as filhoses e o arroz doce. Acompanhou, sem grande partilha, uma espera de bocas alegres que tudo comeriam, com gula e satisfação, por entre beijocas repenicadas e o barulho do desembrulhar dos presentes. E os laços no chão. E as fitas.

Por entre os dias, um ou outro alguém ia aparecendo para saborear o doce da época e se regalar com a iguaria servida. Entrava e saía, distribuía sorrisos e prendas, largava uma beijoca e um Até breve! recebido com carinho mas na certeza de um retorno mais largo.

No Dia de Reis é tempo de levantar a mesa e de guardar os sonhos que sobraram; os bons, que os outros já não prestam. Dobrar a toalha e sacudir o açúcar derramado. E não esquecer de acertar o relógio de parede, para que o tempo chegue a horas certas.

26 comentários:

paulofski disse...

Terei aparecido a tempo de provar uma filhós, de lambuzar os dedos no açucar das palavras e apreciar estes restos de Natal?

Beijinhos

Paulo Tomás Neves disse...

Gostei muito do texto, Paula.
Bons sonhos
:-)

Luis Eme disse...

sim, o tempo, que chegue a horas certas...

ano bom Paula.

bjs

Vera disse...

Pois é...hoje também vou mudar a toalha. De Natal para normal. Desfazer a árvore...a casa vai ficar mais despida...Bjs

CPrice disse...

saudades desta escrita brilhante Querida Paula ..

Um Ano Feliz .. mesmo com sonhos daqueles que não se realizam .. :)

Bj

Paula Crespo disse...

Paulofski,
Sempre! O que é doce nunca amargou :)
Bjs

Paula Crespo disse...

Paulo,
Os sonhos são sempre bons, caso contrário seriam pesadelos, não é mesmo?... ;)

Paula Crespo disse...

Luis Eme,
Que chegue, sim, para dar tempo ao Tempo... :) Um bom ano também para ti.
Bjs

Paula Crespo disse...

Vekiki,
Vai ficar mais despida mas pronta a receber os dias "normais": 365 dias para fazermos deles aquilo que conseguirmos... :)
Bjs

Paula Crespo disse...

Once,
A cada novo ano esperamos sempre que sejo O Ano... Os sonhos ajudam...
Obrigada pelas tuas palavras e Bom Ano!!
Bjs

PB disse...

Ainda bem que consegui-te pô-la a rir, Paula! Esta imagem deste post é que podia ser alterada Lolololol Jão não consigo vê-los à frente... ;)
Beijinhos

Flip disse...

Paula
os sonhos têm tão bom aspecto que me candidato a dois, sim? obrigadinho...e tens um licorzinho? agradecia... :-) faço-te companhia, depois arrumamos tudo direitinho :-) ah, o relógio, são 13,42

Anónimo disse...

Gostei do texto.




Abraços d´ASSIMETRIA DO PERFEITO

Paula Crespo disse...

Pedro Barata,
Ah, mas isso é porque sonhou demais neste Natal! ;)
Bjs

Paula Crespo disse...

Flip,
Tchim-tchim! Ao novo ano!
Bjs

Paula Crespo disse...

Miguel Barroso,
Ainda bem que gostou. Volte sempre e um bom 2009.

Paula Crespo disse...

LB,
Sem dúvida. E vivam os bons! :)
Bjo

BlueVelvet disse...

Excelente texto.
Também é hoje que mudo tudo.
Parece que só hoje aquela ilusão das Festas se vai.
E a realidade do ano que aí vem me bate.
Haverá sonhos para me lambuzar, ao longo do ano?
Bjs

Paula Crespo disse...

Blue,
São mais 365 dias de realidade. Ou realidades, como a(s) quisermos encarar, com mais ou menos sonhos, todos de formas diversas. Com estes, os sonhos, lambuzar-nos-emos. E come-se tudo, porque nem caroço têm! Depois... se vê ;)
Bjs

José Pires F. disse...

Sim, o importante é que o tempo chegue a horas certas, os sonhos já devem estar mais que rijos, embora, o aspecto, seja formidável.

Gostei do conto.

Abraço.

Paula Crespo disse...

PiresF,
:)
Obrigada. Um bom ano de 2009!

Anónimo disse...

Fiquei deslumbrado! Estes sonhos são mesmo de abóbora?
E se eu lhe desejar outros mas coloridos e recheados de tudo de bom porque a Paula merece?
Bjs

Paula Crespo disse...

Sabores,
Direi que pode desejar-mos à vontade, que sonhos coloridos recheados de tudo de bom são sempre bem-vindos! :)
Mas como não sou egoísta, acho que todos devíamos partilhar esses tais sonhos, não é assim?! :)
Bjs

Luís Galego disse...

é tempo de levantar a mesa e de guardar os sonhos que sobraram...

poético, muito poético, cada vez mais...

Paula Crespo disse...

Luís,
Deve de ser porque sonhos e poesia andam de mãos dadas, não te parece?... :)

Anónimo disse...

Em minha casa era exactamente a mesma coisa...