sexta-feira, 11 de julho de 2008

"O meu irmão é filho único", ou diferentes mas iguais...

Dos mesmos argumentistas de A Melhor Juventude, e apesar do enquadramento histórico ser o mesmo e de utilizar uma linguagem cinematográfica a meu ver comum, este filme não segue o mesmo trilho épico do anterior, antes se detendo em pormenores quer de perfil psicológico, quer de detalhes de época muito interessantes.

É comum dizer-se acerca deste filme que se baseia na história de dois irmãos que seguem percursos diferentes, uma vez que um é comunista convicto e empenhado e o outro fascista. Não sendo mentira também não é inteiramente verdade ou, pelo menos, é uma visão muito redutora.

Manrico, o filho mais velho, lindo, sedutor, revolucionário, encarna o perfeito "Che Guevara" italiano, um líder nato que apaixona todos à sua volta. Em aparente contraponto Accio, o mais novo de três irmãos de uma família da classe baixa italiana, o protagonista desta história, é desde muito novo um ser inquieto, que questiona tudo à sua volta, irreverente e impulsivo. Desde a sua entrada forçada no seminário (solução muito em voga para quem via nisso a forma de se livrar de mais uma boca para alimentar), e onde Accio procura seguir à risca e a preceito os mandamentos da Igreja, de tal forma que acaba por sair; da sua adesão fora de época ao partido fascista, à Ideia, como refúgio numa família inventada; na defesa daquilo em que acreditava, entendido como tábua de salvação, como âncora para si próprio. De resposta pronta e punho certeiro, brigão, incompreendido pela própria família que desespera com os seus actos, Accio vai-se revelando como a personagem mais completa e de perfil psicológico mais interessante nesta trama. O rebelde, aparentemente o mau da fita, que recolhe a simpatia do espectador e que, apesar dos excessos, tem um coração grande e alma de justiceiro.

Um filme sobre 15 anos da história de Itália: os anos 60 e 70, o rescaldo ainda do pós-guerra, a vida dos pobres e o saudosismo de Mussolini para aqueles que, nada tendo, se agarram à ideia de um líder todo-poderoso e que os guie. A força do Partido Comunista e a luta operária e estudantil. As contradições de um país que se nos revela através desta família da "arraia miúda", liderada por uma mãe que nunca sorri, esgotada, e por filhos com brilho nos olhos, cheios de ideais revolucionários e bandeira da voz dos desfavorecidos. Ideais de outrora...

5 comentários:

RENATA CORDEIRO disse...

Minha amiga:
Fiz dois posts com obras do Carlo Rochas como desenhista e pintor. Vá prestigiá-lo:
wwwrenatacordeiro.blogspot.com
não há ponto depois de www
Um beijo da Rê
Ele é ótimo!

Anónimo disse...

Sim, ideais... de outrora!
Mais um belíssimo texto...

Bjos

Anónimo disse...

Um comunista fascinante e um fascista susceptivel.
Accio e Manrico, tão diferentes mas tão iguais...
É isto?
BFDS,bjs

Paula Crespo disse...

LB,
Sim, sinais dos tempos. Antes e agora, sempre sinais dos tempos...
Bjo

Paula Crespo disse...

Poesia,
É um pouco isso, sim... Mas mais.
Ambos muito idealistas - sinais dos tempos, como disse a LB.
Bjs