
Até há uns anos, as feiras do livro desempenhavam um papel de relevo na vida cultural das nossas cidades, divulgando novas obras publicadas e constituindo uma oportunidade para quem pretendia comprar livros a preços mais baixos. Ansiava-se pela feira e ela era um acontecimento.
Hoje em dia, contudo, a situação é bem diferente. Existem mais pontos de venda, não se confinando o sector somente às tradicionais livrarias. As grandes superfícies comem a fatia de leão das vendas, onde os
best-sellers são reis e o espectro literário pouco alargado, o que pouco importa ao consumidor médio desde que possa comprar o último grito das letras, anunciado no
écran lá de casa, ou mais um exemplar de um qualquer "como ser feliz sem esforço". Por outro lado, e apesar de um crescimento moderado do sector editorial, (dados do início deste ano apontam para um volume de vendas na ordem dos 500 milhões de euros em 2007 em Portugal, conforme noticiado pelo
Diário de Notícias), a verdade é que o mercado do livro continua em crise, como é do conhecimento geral. Os motivos para esta situação são de ordem social, económica e cultural: o amadurecimento do mercado, o baixo índice de leitura e as crescentes alternativas ao livro como fonte de lazer e de entretenimento, como é o caso da Internet e seus "derivados", são factores determinantes para o baixo consumo deste produto.
Mas voltemos às feiras. Apesar deste cenário que lhes retira protagonismo elas sobrevivem. E ainda bem, diremos em coro. No entanto, a continuarem nos mesmos moldes, anuncia-se a sua morte. Os livros, velhos ou novos, para ali ficam como que esquecidos, quais monos do passado, em barraquinhas muitas vezes iguais às suas avós de há 40 anos, por onde entra o frio ou o calor e em que alguém, por detrás do balcão, com ar mais ou menos infeliz, aguarda, resignado, pelo final da noite. Não se compreende porque é que não se aposta mais na dinamização destes eventos, criando condições agradáveis para quem lá trabalha, os livreiros, e para quem as visita. Criando, por exemplo, mais sessões culturais, como momentos de poesia e debate. E, fundamentalmente, criando espaços lúdicos e de animação, com a actuação de músicos e outros artistas, chamando pequenos grupos de teatro, animadores, eu sei lá!, que atrairiam, inevitavelmente, mais público às feiras.
Na Feira do Livro de Braga que amanhã termina, morre-se de frio e os poucos aquecedores lá instalados estão exclusivamente dedicados ao espaço das tertúlias (assim baptizado, pensado para receber convidados), em total desconsideração por quem lá trabalha e para com o público. Quanto a animação, é praticamente inexistente. Já nos anos anteriores Lisboa e Porto primaram também por uma fraquíssima programação de animação nas respectivas feiras.
Organizar este tipo de eventos não se resume a distribuir stands de livreiros; pressupõe também uma dinâmica maior: a promoção de um evento cultural, mais abrangente e que cative o público a visitar estes espaços.
Feiras do Livro: quem as quer ainda salvar?...