quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Minha Pátria é minha Língua...

... e com ela a identidade colectiva de um povo.
Não, não sou Velho do Restelo; uma língua evolui, incorpora novos vocábulos, espelha novas realidades. É certo. Mas interrogo-me se será pelas boas razões que Portugal vai ceder - porque é de cedência que se trata - a alterar a sua escrita. É amplamente reconhecido que este Acordo tende a aproximar a nossa escrita da versão brasileira, apontando como razão de peso o facto do Brasil constituir um mercado muito mais vasto e que, portanto, urge captar.
Mas, seguindo o mesmo raciocínio, não será então de lembrar que o inglês falado no Reino Unido também diverge do inglês falado nos EUA e, apesar do mercado norte-americano também ser muito mais vasto do que o inglês, nem por isso os britânicos abdicaram da sua língua, nem se lançaram para um qualquer acordo ortográfico! Mantêm a sua identidade, bem como os norte-americanos mantêm a deles.
Trata-se, uma vez mais, de uma questão de atitude e de capacidade de afirmação.
A propósito desta questão, deixo aqui a notícia de imprensa sobre a posição da APEL e dos problemas que se perspectivam com a ratificação deste Acordo:
"Editores e livreiros exigem debate sobre acordo ortográfico
A Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, APEL, manifestou hoje «profunda preocupação» pelo recente anúncio oficial de que até ao final do ano será ratificado o Protocolo Modificativo do Acordo Ortográfico e exigiu que se realize «um debate sério» sobre a matéria.
Num comunicado à imprensa, a associação considera «precipitada e estranha a forma como este processo tem sido conduzido».
Lembrando os mais de 15 anos de «quase silêncio» decorridos desde a aprovação do Acordo Ortográfico, a APEL observa que a decisão de ratificar o Protocolo, anunciada recentemente pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, ocorre por «pressão» do Brasil e «sem qualquer discussão pública nem intervenção dos ministérios da Cultura e da Educação e da própria Assembleia da República».
O Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe assinaram este ano o Protocolo Modificativo, tendo sido os três primeiros países da CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa - a fazê-lo.
«É fundamental - declara a APEL - que todos os sectores da sociedade portuguesa, sem excepção, tenham consciência das implicações da eventual assinatura do Protocolo Modificativo do Acordo Ortográfico, quer a nível interno, quer a nível externo».
Na óptica da associação, não há, por um lado, «uma avaliação rigorosa do impacto que tal medida terá na Educação(...)» e, por outro, «numa altura em que Portugal beneficia do sucesso alcançado pelas editoras portuguesas em Angola e Moçambique, essa posição poderá ser posta em causa com a ratificação do Protocolo Modificativo do Acordo Ortográfico».
No caso concreto do impacto da medida na Educação, a APEL precisa que não é «apenas» o ensino da Língua Portuguesa que está em causa, na medida em que «toda a edição escolar e para-escolar, incluindo livros auxiliares de várias disciplinas, gramáticas e dicionários, terá de ser rapidamente actualizada».
Também a edição generalista e os catálogos das bibliotecas serão abrangidos, assim se «destruindo grande parte do esforço desenvolvido pela iniciativa do Plano Nacional de Leitura», adverte o comunicado.
Posição semelhante à da APEL foi tornada pública pela Sociedade Portuguesa de Autores, SPA, que contesta a ratificação do Protocolo sem o «indispensável debate público e institucional sobre a matéria».
Diário Digital / Lusa

2 comentários:

Leonor disse...

Olá Paula

Estou totalmente de acordo contigo. Nem os ingleses - ou já agora os espanhois - só para citar os casos que melhor conhecemos, tiveram necessidade de o fazer e não vejo porque temos nós de ceder, porque é realmente uma cedência, aos critérios brasileiros. E, comparativamente, parece que á cedência se fica pelos nossos lados...

Porque não ficarmo-nos apenas pelo projecto de um dic conjunto de português de todos os países que esse sim permitisse registar todas as variantes utlizadas por cada um, deixando liberdade de escolha?

Não vejo a menor necessidade de aplicação apressada deste tipo de acordo, já para não falar das implicações financeiras e educativas que terá, como de resto referes...

bom fim de semana
bsj

PS - AAAAAAAAAAAAAHHHHHHH falas tu da dificuldade no blog da Gi. Já vou na 3ª e 4ª tentativa de publicação aqui no teu...

Paula Crespo disse...

Leonor,
A ideia de um dicionário conjunto, que abarcasse as várias formas de escrever português, parece-me muito boa. Muito melhor do que este Acordo!
Bjs
Paula