terça-feira, 13 de novembro de 2007

De costas para os outros ou a antítese da urbe

De há uns anos para cá, Portugal tem vindo a aplicar modelos estranhos, geradores de comportamentos igualmente estranhos. São disso exemplo os condomínios fechados e os centros comerciais.
Em ambos os casos, são modelos que contrariam o conceito de urbe, de comunidade, de conjunto, de integração. Por razões que me parecem meramente especulativas, gananciosas, as nossas cidades têm vindo a albergar guetos, que apenas funcionam intramuros e que em nada contribuem para o desenvolvimento sustentado das cidades.
Muito se tem atacado (e bem) os centros comercais, por destruirem o comércio tradicional e por retirarem vida à cidade. Mas esquecemo-nos, por vezes, destes guetos que são os condomínios fechados. É neles que se têm vindo a criar infraestruturas de qualidade, como os espaços verdes, as áreas de lazer, o comércio mais cuidado, a segurança. Contudo, estes núcleos de habitabilidade supostamente privilegiada estão a contribuir para que as cidades percam vida própria, esmoreçam, se acinzentem.
Viver numa redoma, porquê? Será que Portugal é um país com um nível de delinquência tal que empurre os seus cidadãos para dentro destas incubadoras, única possibilidade de sobrevivência? Ou será que é uma pretensão de ascensão social, de diferenciamento, de delimitação do território, de alergia ao próximo?
Seja como for, a criação ou, melhor dizendo, a proliferação destes espaços contraria o conceito de urbanismo: uma cidade planificada, com conforto e bem-estar. À escala humana - solidária.

2 comentários:

Eridanus disse...

.
.
.
muito verdadeiro, o que a Paula escreve, mas repare que não é só por cá, ao menos, no dizer de Zygmunt Bauman, um sociólogo polaco radicado em Inglaterra (Confiança e Medo na Cidade, Amor Líquido, A Vida Fragmentada, etc) que tenho vindo a descobrir por motivos diversos

Paula Crespo disse...

eridanus,
Obrigada pela sua visita.
Não conheço o sociólogo polaco que refere, mas vou tentar investigar. Acredito que não seja só por cá - até porque como vivemos numa época de globalização, há a tendência para que os modelos se desdobrem por vários cenários, o que eu, aliás, comecei por referir neste post. No entanto, as cidades europeias (e é principalmente com essas que tento estabelecer paralelos), apesar de também terem alguns desses casos, privilegiam, na sua maioria, um urbanismo sustentado, com habitação, comércio, etc. em espaços abertos, na cidade propiamente dita, bem como preservam muito mais do que nós o seu património arquitectónico e paisagistico. Para bem deles e prazer nosso, quando por lá passamos...