
terça-feira, 28 de abril de 2009
O valor das ideias

segunda-feira, 27 de abril de 2009
É uma casa portuguesa... de certeza?!...

Foto: Júlio de Matos
sábado, 25 de abril de 2009
35 anos
Sei que está em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim
Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor no teu jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, que é preciso, pá
Navegar, navegar
Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim
Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo renitente
Um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto de jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Canta primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim
A primeira versao de "tanto mar" tinha sido censurada devido a canção ser uma saudação à Revolução de Abril de 1974 em Portugal. Foi gravada totalmente pela primeira vez num espectáculo ao vivo com a Maria Bethania, que foi passado para disco (em 1975). A segunda versão foi gravada no início de 1976 e refere-se ao Novembro de 1975 em Portugal e ao fim do período mais revolucionário que por cá se vivia.
(in: http://natura.di.uminho.pt/~jj/musica/html/buarque-tantoMar2.html)
segunda-feira, 20 de abril de 2009
O infinito pode esperar?

Veio-lhe à memória uma fidelidade em forma de soneto, com sotaque adocicado, como doce era também a sua letra:
De tudo ao meu amor serei atento / Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto / Que mesmo em face do maior encanto / Dele se encante mais meu pensamento.
E esta fidelidade continuava o seu canto até que concluía:
E assim, quando mais tarde me procure / Quem sabe a morte, angústia de quem vive / Quem sabe a solidão, fim de quem ama / Eu possa me dizer do amor (que tive): / Que não seja imortal, posto que é chama / Mas que seja infinito enquanto dure.
Fez marcha a ré nos pensamentos, já que o sono assobiava ao longe de costas voltadas. Infinito não terá sido, pensou, e o olhar quase se embaciava, recordando-se de outra vida vivida. Mas também houve sol nessa outra vida.
As memórias começavam agora a aproximar-se do tempo recente; parecia que vinham a todo o vapor e serviam-lhe de bandeja outras lembranças. O futuro não acaba amanhã, sorriu-lhe esta. Desfilavam como fantasmas elegantes nesta noite sem sono. O tal que teimava em assobiar para o alto, qual miúdo travesso: se ao menos ele fizesse o que lhe competia, pensava, já não tinha que me ocupar com estes pensamentos circulares, abrigos destes fantasmas elegantes…
quinta-feira, 16 de abril de 2009
Pertencer
Na senda do post anterior, esta é a música que se impunha e que rima com esse texto. Contra a discriminação. Chamo a atenção para a letra, da qual aqui deixo o refrão:
O meu nome é João e vivo ao teu lado
O meu nome é Yuri do continente gelado
O meu numero é zero nesta democracia
Deixa-me pertencer, eu quero pertencer-te...
É o que faz estar muito tempo sem escrevinhar: o pensamento retarda-se e teima em pastar na nebulosa da "branca maldita"! :):)
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Entrevista

Ao abrir a porta percebeu imediatamente que era. Na sua frente, uma mulher com cara simpática, afável, cabelo curto e lenço ao pescoço, preso com um alfinete em forma de flor. Formas quase redondas, a tender para o cheio, ar lavado e engomado. Sorriso franco.
Há oito anos que vinha do Leste. Ia e vinha, entre as saudades da terra e dos filhos e a necessidade de trabalho. Caminhava para cá, deixando no pensamento um rasto de saudade e preocupação, presos numa cidade distante de um país gelado, à direita no mapa.
Enrolava as palavras lusas e fazia um esforço por dar forma às ideias e ao que precisava de dizer. Do sorriso aberto espreitava um dente de ouro, fora de moda no lado de cá da Europa, mas que talvez falasse sobre um modo de vida de alguma forma parado no tempo. Ou pelo menos, no nosso tempo…
Limpava, engomava, e lá ia e vinha, num circuito sempre igual, ritmado e seguro, que inspirava confiança. Ia e vinha até um dia, em que anunciou a ida para tratar da mãe, doente e gasta, que esperava em silêncio do lado de lá, à direita no mapa.
Prometeu deixar outra em seu lugar – possivelmente parecida, vinda do mesmo sítio e viajante no mesmo percurso e com o mesmo destino.
Desligou o telefone com outro suspiro. Seria desta?...