segunda-feira, 27 de abril de 2009

É uma casa portuguesa... de certeza?!...

Palacete de D. Chica, Palmeira, Braga, Portugal
Foto: Júlio de Matos


São os lares dos torna-viagem de outros tempos. Idos, longínquos. São casas de quem saiu cheio de esperança, cheio de vontade de regressar endinheirado. E assim foi. Na transição do século XIX para o século XX, mais concretamente entre 1860-1930, portugueses nortenhos, de uma classe média rural, rumaram ao Brasil e regressaram com fortuna feita, passando a fazer parte da classe possidente local, daquela pequena franja que ditava as regras ou pelo menos influenciava a vida pública. Construíram casas apalaçadas que ostentavam o produto do seu esforço e o sorriso da sorte que lhes batera à porta. Estas "casas de brasileiro" mostravam as marcas não só da riqueza dos donos como também de gostos alheios aos nossos e quase sempre misturados, num resultado eclético que veio transformar o panorama da arquitectura nacional, a paisagem do Alto Minho e marcar definitivamente uma época.

Algumas destas casas dariam excelentes cenários para filmes, onde viveriam figuras míticas, damas e cavaleiros, monstros e outros seres que povoam o nosso imaginário. Cinquenta delas foram captadas pelo olhar de Júlio de Matos, arquitecto e fotógrafo de Braga, dando origem a uma exposição da iniciativa do Ministério da Cultura de Portugal, no contexto das “Comemorações dos 200 anos da Ida da Família Real Portuguesa para o Brasil” e patente ao público no Brasil (Museu Nacional, do Complexo Cultural da República de Brasília, no Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro e no Museu de Arte da Bahia, em Salvador). Estas fotografias encontram-se também editadas em álbum fotográfico, com texto de Jorge P. Sampaio (Casas de Brasileiro, DeMatos, Braga, 2008)

12 comentários:

Flip disse...

Paula, alguns desses palacetes são belas obras de arquitectura, sem dúvida, e marcam como referiste uma época de glória para os proprietários. São, afinal, monumentos e reflexos do esforço individual, património deles e deste povo que passa a vida a sair em busca do ouro e da aventura...Somos um povo bem característico não somos?
:-)

Paula Crespo disse...

Flip,
De facto: uma manta de retalhos em busca de novas paragens! ;)
Acho que todos os povos que resultam de misturas étnicas tornam-se mais "ricos", não é assim? :)

CS disse...

Excelente blog. Cheguei através de um amigo comum, o Luís Bento. E convido-a, como alguém que sabe distinguir o que nasceu do 25 de Abril do que existia antes a ler esta coisa supreendente com que me deparei no Sábado: estava um militante partidário português a elogiar isto nas redes sociais. Se sentir a repulsa pelo que aqui diz que eu senti peço-lhe que divulgue o meu texto no seu blogue, mesmo com um link apenas: quanto mais gente o vir, mais fácil será impedir que este terror um dia volte a ser verdade:
http://ovalordasideias.blogspot.com/2009/04/houve-ontem-quem-louvasse-o-regresso-da.html

Ao seu critério.
Obrigado.
Carlos Santos

Alberto Oliveira disse...

... mais recentemente(?!) os torna-viagens às franças & araganças, por ventura menos ricos que aqueles que foram em busca da árvore das patacas, polvilharam de telhados cinzento-escuros o interior luso, numa clara demonstração de força estético-cromática. Como quem diz: se ninguém gostasse do amarelo...Continuação de óptima semana.

Paula Crespo disse...

Carlos,
Obrigada pela visita e volte sempre!
Li o seu post e é,de facto, impressionante. Vou fazer a ligação para lá.
Boa semana!

Paula Crespo disse...

Legível,
O problema não estar em não gostar do amarelo. Gostar até se gosta, mas a questão é que o amarelo só fica bem no seu sítio. As casas com telhados pretos a que se refere não rimam nem encaixam na nossa paisagem. Os motivos pelos quais elas são contruídas dessa forma, no seu "habitat natural", não fazem sentido aqui no nosso...
Boa semana!

Alberto Oliveira disse...

Paula,

Era precisamente isso que eu queria dizer, pois "a clara demonstração de força" é uma crítica ao chamado poder autárquico que (esse sim) deveria ter força para regular situações desse tipo.
Boa semana.

Oliver Pickwick disse...

Muito, muito bonita. Se fosse diretor a escolheria como cenário para um remake de Psicose (Psycho), de Hitchcock.
Um beijo!

Paula Crespo disse...

Legível,
Nem mais. Como eu costumo dizer, normalmente o problema não está tanto em quem faz mas sim em quem deixa fazer. Há sempre alguém que tem o poder de validar ou não as situações e esses é que são os verdadeiros responsáveis. Tanto neste caso como noutros.
Boa semana!

Paula Crespo disse...

Oliver,
É mesmo!! Hitchcock nunca soube o que perdeu...! ;);)
Beijo

Paulo Tomás Neves disse...

Olá, Paula!
Dá gosto "bisbilhotar" por aqui quando se regressa à leitura dos blogs :-)Beijinhos

Paula Crespo disse...

Paulo,
Bisbilhote à vontade: a casa é sua! :)
Bjs