sexta-feira, 12 de setembro de 2008

A América do nosso descontentamento

Obama versus Palin. Porque é disso que se trata. Umas eleições que, até há pouco tempo, pareciam estar bem encaminhadas para o lado dos democratas, revelam-se agora como que ensombradas pela “aparição” em cena desta verdadeira deusa do obscurantismo. Se, em termos oficiais e formais, as eleições americanas se disputam entre Obama e McCain, a realidade no terreno parece ser diferente. Sarah Palin ganha protagonismo e remete o candidato McCain para segundo plano na discussão pública, como se fosse ela própria a candidata à presidência.

É de Palin que se fala ou, se quisermos, McCain fala através dela, como se tivesse nela delegado plenos poderes de representação. Esta mulher, que nos entra pela casa dentro com ar alucinado, que em nada defende os direitos das mesmas; uma mulher que, completamente tonta, se manifesta a favor da pena de morte, do uso generalizado das armas (como se já houvessem poucas...); que não acredita no aquecimento global e não percebe a vantagem da utilização das energias alternativas. Uma mulher de um fundamentalismo atávico, quer religioso, quer político, quer tudo, que defende o uso da força para a resolução dos conflitos internacionais, dos quais é fácil de ver que está a anos-luz de os entender. A última ideia brilhante nesta matéria, é a de que os EUA deveriam declarar guerra à Rússia…

Posto isto, é fácil “bater” na senadora. E bate-se muito, em português, espanhol, francês, inglês, alemão, italiano, etc. Em europeu. Mas a dúvida mantém-se: será que em americano se vai bater o suficiente? A utilização de Palin como “estrela da Companhia” nesta campanha eleitoral foi um golpe de mestre por parte dos republicanos, ao puxar pelos sentimentos mais autênticos da América profunda e ultraconservadora que, como sabemos, é demasiado extensa para ser ignorada. Enquanto McCain, que responde aos anseios de um eleitorado conservador e republicano, se preocupa, no entanto, em fazer passar a mensagem de alguma mudança em relação à política vigente(!), com Palin pretende-se garantir o voto do eleitorado mais retrógrado.

Não fosse esta uma eleição do império, mesmo que em declínio anunciado, e rir-nos-íamos de tamanhos disparates. Mas sendo-o, é assustador.

11 comentários:

Aeroporto de Alcochete disse...

Venho por este meio convidá-lo(a) a visitar um novo espaço onde se falará de Lisboa.
Deixo a poesia, a música e a arte para outro(a)(s) amigo(a)(s), mas se pretender vender alguma coisa, sem qualquer comissão, para além da idoneidade pessoal que se exige, visite este blog.
Como a mudança é uma constante da vida, tal como o sonho, Vendo Lisboa ainda terá pouco para ver, mas anseia pela motivação decorrente da sua visita.
Obrigado

Luis Eme disse...

depois da reeleição de Bush nas últimas eleições, recuso-me sequer a tentar compreender os americanos dos EUA, Paula...

embora os seus disparates também acabem por sobrevoar o nosso continente...

Paula Crespo disse...

Luis Eme,
Exactamente. E também nessa 2ª eleição de Bush, ninguém perspectivava que ele ganhasse daquela forma...

mariam [Maria Martins] disse...

Olá!
excelente post.
... como assustador é tanta coisa lá d'América!
tem tanto de grandioso como de estúpido, valha-nos Deus!e pior pior mesmo é continuam a ser "os senhores do mundo"... enfim

cheguei das abençoadas férias, voltarei aqui de novo para ler os outros posts...

boa semana
um sorriso :)

mariam

Paula Crespo disse...

Mariam,
Abençoadas férias, de certeza!
Bjs

Paula Crespo disse...

Lb,
Não se trata de especial clarividência europeia... Trata-se, somente, de ouvir o discurso de ambos os lados e de falar com base nas actuais sondagens, que não apontam para grandes diferenças entre os dois candidatos. Aliás, o bom-senso americano viu-se, com a reeleição de Bush - também não seria expectável...!
Mas acreditemos que o bom senso também mora do lado de lá.

Paula Crespo disse...

Lb,
Então!!! Eu bem digo...
Mas, apesar dos interesses que habitam sempre de ambos os lados, já que é necessário tomar partido, então que ganhe aquele que, aparentemente, oferece menos perigos para o mundo. E não me parece que seja o da senhora Palin, de acordo com as suas (e dele) palavras...

BlueVelvet disse...

É assustador sim.
Sobretudo porque se ela se permite fazer estas declarações de intenção antes, que fará se for eleita ( longe vá o agoiro).
Não me agrada mesmo nada este número de ventriloquo.
Veludnhos azuis

paulofski disse...

Na minha opinião não passa de mais um produto de marqueting republicano que vai satisfazer os lóbis instituidos.

Beijo

Paula Crespo disse...

Bluevelvet,
Número de ventríloquo!? Muito bom! ;)
Bjs

Paula Crespo disse...

Paulofski,
Concordo que é uma estratégia. E que a senhora não representa um papel espontâneo. Mas seja como for...
Bjs