sábado, 29 de novembro de 2008

Silêncios...

Como diria ela, “não é mandatório”. Pois não. Nem obrigatório, sequer, que isto na língua materna soa mais reduzido, menos rigoroso, com menos… afinco?!, indagaria ele, se coragem tivesse, com um sorriso irónico a bailar-lhe nos olhos. Um sorriso daqueles que traem qualquer tentativa desajeitada de parecer interessado nas suas palavras, de aderir às ideias que lhe saltam da boca num stress de hora de ponta.

Ajeita o cabelo, cruza e descruza as pernas que terminam num modelo fashion e não pára. Não pára de verbalizar opiniões sobre tudo e coisa alguma, com a segurança de quem acabou de travar conhecimento com algumas delas e a quem já trata por “tu”, numa descontracção de velhas amigas. Ele sorri para dentro e continua a ouvi-la, escutando-a intermitentemente, vagueando de mansinho por outros destinos que a memória lhe vai servindo em pequenas doses.

“Não achas?”, ouviu-a. Ao longe, num eco, com arestas nas palavras. “Hum? Sim… acho…”. Não achava. Estava demasiado morno para achar o que quer que fosse, num torpor distante do qual não lhe apetecia sair tão depressa e enfrentar o que ela achava. Voltou-se, serviu-se num copo alto e perdeu o olhar no rio que o chamava ao longe, com aquela luz de fim de tarde por quem se apaixonara.

“Qualquer dia vou navegar e entro nela”, pensou. Nessa luz com nome que guarda só para si, por não interessar a quem acha muitas coisas que lhe são distantes. Qualquer dia…

15 comentários:

Vera disse...

É verdade Paula! Às vezes a luz por que nos apaixonamos está mesmo ali, a sorrir para nós. Às vezes não é fácil sair do lusco-fusco em que vamos andando, mas se formos capazes...que alívio, que esplendor :-)!
Claro que pode trazer a frase! Envio-lhe por mail, todo o poema, certo?
Bom sábado!

BlueVelvet disse...

Era um casal de amantes? de amigos? de simples conhecidos?
Que importa.
Tantas pessoas que em algum momento passam pela nossa vida e que pensam que têm tanto para dizer. Que sabem tanto. Que sabem tudo.
E nós, pelo simples e desperada necessidade de vencer a solidão, fazemos par com elas até ao momento em que só lá fica o corpo, e pelo menos em espírito partimos, embarcamos numa luz ou num sonho.
Pouco importa.
Desede que possamos partir.
Belíssima reflexão.
Beijinhos e bom fim-de-semana

Luis Eme disse...

qualquer dia...

bjs Paula

Graça Brites disse...

Paula,

Sempre me pareceu que os encontros mais belos acontecem assim: vagueando de mansinho por outros destinos que as memórias nos vão proporcionando. São viagens interiores só possíveis ao som de silêncios assim, como este que hoje nos conta.
Gosto muito de lugares como este e a Paula é uma excelente leitora/escritora de silêncios.

Bjs e um bom fim-de-semana.

Paula Crespo disse...

Vekiki,
Às vezes... é :)
Bjs e bom feriado!

Paula Crespo disse...

Blue,
Que importa... O que importa é que há sempre alguém que julga saber para além do que conhece... ;)
Bjs e bom feriado!

Paula Crespo disse...

Luis Eme,
Qualquer dia... :)
Bjs

Paula Crespo disse...

Graça,
E quem não vagueia de mansinho já não sonha, logo...;)
Bjs e bem-haja :)

Paula Crespo disse...

LB,
:):)
Bjo

A. Jorge disse...

Adoro estes teus textos cheios de humor e esscritos de uma maneira fora de série.
Embora nem sempre comente, é raro não os ler.

Beijos

Jorge

Paula Crespo disse...

Jorge,
Obrigada pela tua adesão aos meus escritos!... :)
Bjs

CPrice disse...

" .. enfrentar" :) às vezes custa, outras não vale a pena e raramente é preciso.
Digo eu :)

Gostei muito *

Paula Crespo disse...

Once,
Em regra custa...
Bjs

Anónimo disse...

Temos escritora sem qualquer dúvida, gostei muito do que li, qualquer dia já sei a quem devo recorrer para complementar com pequenos textos as minhas imagens.

Vai pensando nessa ideia e diz-me de tua justiça, ok?

Um beijinho.

Paula Crespo disse...

José,
Isso é um desafio e tanto... ;)
Obrigada pelo incentivo :)
Bjs