Sabia-a nervosa, miudinha nos pequenos gestos que desenhava em torno de si mesma. Adivinhava-a roendo a unha do polegar direito, compondo a saia, balançando o pé. Sentia-a cada vez mais apressada, num compasso curto e pequenino, num tique-taque de relógio Swatch com o barulhinho irritante do tempo sempre igual.
Não a podia ver mas sabia que lá estava. Sabia também que, passada uma hora, por aí, se cansaria de esperar e sairia irritada pelo tempo gasto em vão. Pressentia que fosse recuperar esse tempo no centro comercial que ficava a 3 km apenas, que começaria pelo café engolido em seco e que afundaria as mágoas na montra daquela loja pequenina entalada entre a florista e a outra dos brinquedos.
Tinha a certeza que voltaria mais tarde, à noite, reatando a espera, encolhendo-se no sofá com o portátil nos joelhos. Conversas interrompidas, meias-palavras, pausas forçadas. De tudo um pouco era composto o seu tempo, esquecido de viver para se alongar neste ritmo morno, de cores pálidas.
Sabia-o ela também, mas teimava em esquecer. Porque esquecer era teimar em viver, esse tempo virtual e de espera mas que lhe alimentava a ilusão.
Observava-a um, por fora; sentia-se ela, por dentro. Um só tempo, duas visões. O mesmo final.
Num momento que não foi o mesmo, desligaram o botão e foram dormir.
Não a podia ver mas sabia que lá estava. Sabia também que, passada uma hora, por aí, se cansaria de esperar e sairia irritada pelo tempo gasto em vão. Pressentia que fosse recuperar esse tempo no centro comercial que ficava a 3 km apenas, que começaria pelo café engolido em seco e que afundaria as mágoas na montra daquela loja pequenina entalada entre a florista e a outra dos brinquedos.
Tinha a certeza que voltaria mais tarde, à noite, reatando a espera, encolhendo-se no sofá com o portátil nos joelhos. Conversas interrompidas, meias-palavras, pausas forçadas. De tudo um pouco era composto o seu tempo, esquecido de viver para se alongar neste ritmo morno, de cores pálidas.
Sabia-o ela também, mas teimava em esquecer. Porque esquecer era teimar em viver, esse tempo virtual e de espera mas que lhe alimentava a ilusão.
Observava-a um, por fora; sentia-se ela, por dentro. Um só tempo, duas visões. O mesmo final.
Num momento que não foi o mesmo, desligaram o botão e foram dormir.
20 comentários:
"virtual insanity" diz a música .. ou quando a realidade que queremos toma conta da que nos esquecemos de viver ..
Mais um excelente texto Paula *
Beijinho
A espera precisa de alguma espera, esperança, paciência. A espera desespera porque por vezes o tempo não é o melhor remédio.
Bjs
Once,
Sobreposições...
Bem-hajas! :)
Bjs
Paulofski,
Ou, por outras palavras, quando a espera tem limites :)
Bem visto.
Bjs
olá Paula
às vezes melhor mesmo desligar o botão, no dia seguinte o filme repete-se e pode ser que ela saiba as outras meias palavras
:-)
Adoro contos deste género, lindo...
Estou voltando em forma de... Sofá... Amarelo, ainda por cima!!!
Beijinhos! Até breve!!!
Flip,
É um ponto de vista ;) E, ainda nessa óptica, para bom entendedor meia palavra basta, não é mesmo?! :)
Bjs
Sofá,
Já vi! E com um ar muito confortável, por sinal ;)
Bjs
Gostei da visita. Virtual, pois! Como o tempo à espera de uma qualquer realidade que, na maioria das vezes, não chega nunca mas ocupa a vida. Quase se confunde o virtual e o real!
Espero que voltes a visitar-me.
Oliva,
Agradeço e retribuo... :)
Quantas pessoas vivem mais a vida virtual que a real?
Mas não sou das que que as criticam.
Algumas é só o que lhes resta.
Lindo o que escreveste.
E triste.
Beijinhos
Blue,
Mudam-se os tempos e com eles a realidade das pessoas. Este texto, ficcionado, pretende ir nesse sentido.
:)
Bjs
a espera precisa sempre de "santa" paciência...
bjs Paula
Paula, adorei o texto e, principalmente, a ideia de que esquecer é teimar em viver. Dá uma quote muito interessante.
Bjs
Luis Eme,
Sim, mas por vezes quem espera desespera ;)
Bjs
Graça,
:):)
Porque aqui esquecer é manter esse tipo de vivência, esse "viver". Boa quote??? Eheheh!...........
Bjs
Tenho dúvidas...
Para te comentar...escrevo poesia ou prosa?
A espera é sempre uma melodia...e um dilema.
O após, é sempre um dilema, sem melodia...
Beijo.
Outono,
Comentaste em poesia, creio... :)
Bjs e bom fim-de-semana!
A espera, o tempo... Às vezes o melhor mesmo é desligar o botão...
Beijo
LB,
Às vezes é, se bem que pode ser a solução mais amarga.
Bjo
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