Como diria ela, “não é mandatório”. Pois não. Nem obrigatório, sequer, que isto na língua materna soa mais reduzido, menos rigoroso, com menos… afinco?!, indagaria ele, se coragem tivesse, com um sorriso irónico a bailar-lhe nos olhos. Um sorriso daqueles que traem qualquer tentativa desajeitada de parecer interessado nas suas palavras, de aderir às ideias que lhe saltam da boca num stress de hora de ponta.
Ajeita o cabelo, cruza e descruza as pernas que terminam num modelo fashion e não pára. Não pára de verbalizar opiniões sobre tudo e coisa alguma, com a segurança de quem acabou de travar conhecimento com algumas delas e a quem já trata por “tu”, numa descontracção de velhas amigas. Ele sorri para dentro e continua a ouvi-la, escutando-a intermitentemente, vagueando de mansinho por outros destinos que a memória lhe vai servindo em pequenas doses.
“Não achas?”, ouviu-a. Ao longe, num eco, com arestas nas palavras. “Hum? Sim… acho…”. Não achava. Estava demasiado morno para achar o que quer que fosse, num torpor distante do qual não lhe apetecia sair tão depressa e enfrentar o que ela achava. Voltou-se, serviu-se num copo alto e perdeu o olhar no rio que o chamava ao longe, com aquela luz de fim de tarde por quem se apaixonara.
“Qualquer dia vou navegar e entro nela”, pensou. Nessa luz com nome que guarda só para si, por não interessar a quem acha muitas coisas que lhe são distantes. Qualquer dia…
Por um estranho labor dos fusíveis do pensamento, como que num flashe, veio-me à memória uma peça que vi no Teatro Aberto, em 2006, Os sete dias de Simão Labrosse. Uma peça que adorei, pelas interpretações e pelo texto e que me marcou definitivamente, quer pelos bons motivos já invocados, quer pelos maus, como uma errada reacção de algum do público presente, que parecia não compreender a profundidade dos diálogos que lhes entrava pelos ouvidos e que vagueava com muita dificuldade até ao cérebro. E como os actores se superavam em impossíveis, ao não saltar para a triste realidade desta plateia que os observava no vazio das gargalhadas estridentes e ocas, e a abanar, numa tentativa, por certo inglória, de a acordar do torpor da suposta comédia que teimava em assistir...




Espectáculo Final da Escola de Dança do Conservatório Nacional
Teatro Camões
2 Jul: 21h, 3 Jul: 16h, 21h, 4 Jul: 16h
Curtas 2010 - II Mostra de Teatro de Peças de Curta Duração
Traseiras do Mercado da Ribeira, Lisboa
Até 4 de Julho
XI Grande Noite de Ballet Flamenco
Teatro Tivoli
10 de Julho, 21h30

