Revolutionary Road, de Sam Mendes
Estreou há dias o último filme de Sam Mendes, o homem que já tinha realizado Beleza Americana, esse filme espectacular sobre o modo de vida da classe média dos States. Tema recorrente este, já que é também sobre a classe média americana e sobre a vidinha caseira, pacata e ordeira de um casal dos anos 50 que Sam Mendes nos conduz o olhar.
Subúrbios de Connecticut, 1955. A vida do casal Wheeler não corre sobre rodas. Vida organizada, de um casal com dois filhos e um emprego estável, não chega, no entanto, para satisfazer as aspirações desta dupla que se julga de certa forma “especial”. O mote “Paris” surge nas suas conversas como um escape, uma libertação, um ideal de liberdade e uma promessa de uma vida cheia, plena de satisfação pessoal, em contraponto com aquela pacatez e monotonia americana de subúrbio ajardinado e soalheiro, em que os dias se adivinham iguais e sem estremecimentos. Ao terem mudado para Revolutionary Road (a morada da casa que alugaram quando nasceram os filhos e onde resolveram instalar-se), não poderiam imaginar, contudo, em como este nome lhes seria premonitório. Um autêntico caminho revolucionário, que rimava com a ideia de tudo abandonarem e recomeçarem a vida em Paris, onde ela trabalharia e ele teria tempo livre para descobrir o que quereria fazer da sua vida, revolucionando por completo o sistema, o American Dream, que ditava que o homem era o cabeça de casal e, por isso, que a ele cabia sustentar a família; que ditava, também, que uma família com filhos deveria pautar o seu quotidiano por um ramerrão sossegado; que ditava, ainda, que era normal aceitar-se um emprego estável, ainda que completamente desinteressante, e que a fogosidade de outros voos ficava vedada aos casados com responsabilidades familiares.
Sonho e realidade. De que maneira é que o sonho se pode tornar realidade ou, pelo contrário, será que se trata de duas situações antagónicas e inconciliáveis... No caso dos Wheeler, a “revolução” contra o conformismo que pensavam levar a cabo não viu a luz do dia e transformou-se no maior pesadelo das suas vidas.
Adaptado do romance de Richard Yates, os diálogos exprimem, assim, um sabor literário muito interessante. Com uma realização muito bem conseguida, através de planos em que a acção decorre de forma suficientemente explícita mas sem que o óbvio nos seja servido de bandeja, a empanturrar-nos com finais de diálogos desnecessários, e de uma composição de personagens perfeita, em que todas elas têm uma função bem definida, este filme revela-se como um dos melhores dos últimos tempos. De salientar o excelente desempenho de Kate Winslet, no papel da protagonista insatisfeita e sonhadora e de um Leonardo DiCaprio maturo. A personagem do vizinho louco, interpretada por Michael Shannon, faz-nos lembrar um pouco o Coro das tragédias gregas, a voz da consciência, aquele que goza da liberdade para dizer a verdade, sem se intimidar pelo discurso das conveniências sociais.
Um filme que merece as cinco estrelas. Uma reflexão absolutamente imperdível.
Estreou há dias o último filme de Sam Mendes, o homem que já tinha realizado Beleza Americana, esse filme espectacular sobre o modo de vida da classe média dos States. Tema recorrente este, já que é também sobre a classe média americana e sobre a vidinha caseira, pacata e ordeira de um casal dos anos 50 que Sam Mendes nos conduz o olhar.
Subúrbios de Connecticut, 1955. A vida do casal Wheeler não corre sobre rodas. Vida organizada, de um casal com dois filhos e um emprego estável, não chega, no entanto, para satisfazer as aspirações desta dupla que se julga de certa forma “especial”. O mote “Paris” surge nas suas conversas como um escape, uma libertação, um ideal de liberdade e uma promessa de uma vida cheia, plena de satisfação pessoal, em contraponto com aquela pacatez e monotonia americana de subúrbio ajardinado e soalheiro, em que os dias se adivinham iguais e sem estremecimentos. Ao terem mudado para Revolutionary Road (a morada da casa que alugaram quando nasceram os filhos e onde resolveram instalar-se), não poderiam imaginar, contudo, em como este nome lhes seria premonitório. Um autêntico caminho revolucionário, que rimava com a ideia de tudo abandonarem e recomeçarem a vida em Paris, onde ela trabalharia e ele teria tempo livre para descobrir o que quereria fazer da sua vida, revolucionando por completo o sistema, o American Dream, que ditava que o homem era o cabeça de casal e, por isso, que a ele cabia sustentar a família; que ditava, também, que uma família com filhos deveria pautar o seu quotidiano por um ramerrão sossegado; que ditava, ainda, que era normal aceitar-se um emprego estável, ainda que completamente desinteressante, e que a fogosidade de outros voos ficava vedada aos casados com responsabilidades familiares.
Sonho e realidade. De que maneira é que o sonho se pode tornar realidade ou, pelo contrário, será que se trata de duas situações antagónicas e inconciliáveis... No caso dos Wheeler, a “revolução” contra o conformismo que pensavam levar a cabo não viu a luz do dia e transformou-se no maior pesadelo das suas vidas.
Adaptado do romance de Richard Yates, os diálogos exprimem, assim, um sabor literário muito interessante. Com uma realização muito bem conseguida, através de planos em que a acção decorre de forma suficientemente explícita mas sem que o óbvio nos seja servido de bandeja, a empanturrar-nos com finais de diálogos desnecessários, e de uma composição de personagens perfeita, em que todas elas têm uma função bem definida, este filme revela-se como um dos melhores dos últimos tempos. De salientar o excelente desempenho de Kate Winslet, no papel da protagonista insatisfeita e sonhadora e de um Leonardo DiCaprio maturo. A personagem do vizinho louco, interpretada por Michael Shannon, faz-nos lembrar um pouco o Coro das tragédias gregas, a voz da consciência, aquele que goza da liberdade para dizer a verdade, sem se intimidar pelo discurso das conveniências sociais.
Um filme que merece as cinco estrelas. Uma reflexão absolutamente imperdível.
15 comentários:
Fica a tua sugestão.Obrigado.
Beijinhos
Hum...cheira-me que ia gostar de ver esse filme...
Obrigada :) Bjs
Paula
adorei o filme, brilhantes representações, um ideal frustrado e a ponderação sobre a razão de viver, um filme a não perder ;-)
Pedro,
Uma boa semana!
Vekiki,
Cheira-me que sim... ;)
Bjs
Flip,
A não perder, efectivamente...
Bem Paula se dúvidas houvesse que é um filme a ver bastaria ler este teu texto :)
e depois .. o Senhor DiCaprio conquistou-me no Catch Me If You Can ;)
Once,
Esse filme não vi mas acredito que DiCaprio conquiste, sim, já que é um actor de primeira linha.
Bjs
Profeta,
:)
Está na minha lista tal como todos os dos óscares.
Depois de te ler ainda fiquei com mais curiosidade.
Beijinhos
Blue,
Vale a pena ver, sim. Grande filme!
Bjs
absolutamente imperdivel, com registos que muito me tocaram...
Merece sem dúvida as 5 estrelas. Um filme onde se respira as asfixia dos sonhos por concretizar.
Eu vi-o recente mente e gostei bastante. Brevemente hei-de postar sobre ele.
Esse filme é uma autêntica lição de vida sobre a vivência dos casais nos dias que correm. A rotina quando se instala, torna-se castradora no casamento...
Este eu vi, e o considero muito superior a Beleza Americana. Este último, achei-o até certo ponto, ingênuo, e recheado de falsos moralismos.
Um beijo!
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