quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Small talk para dias cinzentos...

Small Talk 11" x 14"Acrylic on canvas panel (retirado de aqui)


Tenho que aprender a falar, pensou. Aprender a gastar palavras pequenas, juntá-las em comboios formando frases conhecidas, daquelas que toda a gente reconhece facilmente e sem esforço, daquelas que não obrigam os outros a pensar muito, ou sequer a pensar um pouco, e para as quais toda a gente conhece antecipadamente as respostas. Confortáveis frases, sobre banalidades, queixumes recorrentes e inconsequentes, dos tais que existem apenas para preencher o vazio da falta de palavras com mais sentido, enjeitadas pelas bocas e cabeças de muitos.

Esgotou o tema tempo, estafou-o, falou dele até à exaustão que a chuva e o vento lho permitiam. Deu-lhe uma boa parte da manhã, nos encontros repetidos e rotineiros de todas as manhãs. Trocou as nuvens carregadas pelo desejo do sol ausente, e regressou à neblina do vazio de palavras sem sentido.

Faz pela vida, continuou pensando. Constrói uma vidinha de pequenos nadas, enquanto esperas pelos grandes, desconhecidos, e aprende a falar do tempo, dos gatos, da vizinha da frente ou do lado ou de cima. Sobe e desce no elevador as vezes que forem precisas para ganhar coragem, ou ritmo, ou tema para estas coisas nenhumas que enchem o dia-a-dia. Aprende o interesse dos outros, para que se interessem por ti: um pequeno nada no meio de tanta coisa nenhuma, grande, imensa, sufocante, que tanto os atrai.

Inscreve-te. Faz parte. Corre, corre…

21 comentários:

CPrice disse...

"enjeitadas pelas bocas e cabeças de muitos" .. mas que farpa Paula!

(assino eu) *

BlueVelvet disse...

Small talk, Paula?
Eu diria Great text.
Beijinhos

Paula Crespo disse...

Once,
E onde entra o espanto, cara amiga?... ;);)
Bjs

Paula Crespo disse...

Blue,
Sim?!... Thanks! :)
Bjs

paulofski disse...

Mesmo, mas mesmo necessitado de ler um texto assim. Vou correr e inscrever-me.

Beijinhos

Paula Crespo disse...

Paulofski,
Corre Paulo, corre... ;);)
Obrigada pelo simpático comentário.
Bjs

Flip disse...

Paula
desfiando o novelo?!! E numa cadência que tem muito que se lhe diga...E as inscrições são para diurno ou nocturno?
bjs e bfs
:-)

mariam [Maria Martins] disse...

Paula,

grande texto!
e, parece que já me inscrevi!?!

bom fim-de-semana
um sorriso :)
mariam

Unknown disse...

Inscrevo-me sim! Para aprender a escrever assim...

Paula Crespo disse...

Flip,
As incrições dependem do ritmo de cada um... ;)
Bom fds!

Paula Crespo disse...

Mariam,
;);)
Bom fim-de-semana!

Paula Crespo disse...

Luis Bento,
Obrigada pelo elogio e bom fds!

Paula Crespo disse...

LB,
:):)
E eu gostava de fotografar assim... ;)

mariam [Maria Martins] disse...

:)
também gosto da 'Niké'...

já lhe disse que a sua barra lateral é um mimo? gosto de por momentos lá 'estacionar'. obrigada .

boa semana :)
mariam

Paula Crespo disse...

Mariam,
Acha? Faço por a ir actualizando mas às vezes... :)
Bjs

Alberto Oliveira disse...

... aprender a reconhecer os pequenos nadas do quotidiano é um passo importante para crescermos. Infelizmente(?!) na actualidade, a velocidade de vida é tal que, no presente, os nossos sentidos estão treinadíssimos para reconhecer... objectivos futuros. Se nos perguntarem o nome do gato da vizinha do andar de baixo somos capazes de hesitar...

Óptimo texto para reflexão.

Beijos e sorrisos.

Paula Crespo disse...

Legível,
A vida é feita de pequenos nadas, já cantava o cantor... Tudo bem. A questão aqui é mais quando as conversas não transpõem esses pequenos nada e navegam em círculo dentro deles...
O gato?! Nem o da vizinha, quanto mais o do gato!... ;)
Bjs

Luís Galego disse...

Constrói uma vidinha de pequenos nadas, enquanto esperas pelos grandes, desconhecidos, e aprende a falar do tempo, dos gatos, da vizinha da frente ou do lado ou de cima...

é um pouco com a Luísa que sobe a calçada...belo texto...

Paula Crespo disse...

Luís,
Sim, a Luísa da calçada encaixa-se neste cenário. De certa forma. Na rotina pardacenta. Mas talvez menos na ansiedade e na insatisfação...

Oliver Pickwick disse...

A real prova de que tamanho não é documento. Texto pequeno, porém de grande percepção, especialmente do cotidiano urbano e, muitas vezes, repleto de grandes nadas. Desconhecia este seu lado a la Gibran. Ou Sidarta.
Um beijo!

Paula Crespo disse...

Oliver,
É para que veja: as várias facetas da "escrevinhadora", eheheh!! ;)
Beijo!