Foto de José Neves
Maria olhou a miniatura de lata amarela. A tampa da arca aberta e ao lado o saco cheio de outras miudezas, prontas a seguirem viagem até ao contentor do lixo mais próximo. Agarrou o pequeno brinquedo, mexeu, mirou e remirou. Sorriu um sorriso calmo e morno e viajou numa memória perdida. Aquela miniatura lembrou-lhe as vezes em que, puxada pela mão da mãe, caminhava apressada, passos atabalhoados, pernas curtas de criança, aos tropeções, “depressa”, diziam-lhe, “não podemos perdê-lo”, e dava por si quase atirada para dentro, entalada entre um sobretudo e um vestido de lã. Sentia o carro deslizar a uma velocidade estonteante, e ia experimentando o prazer dessa pequena vertigem, deliciada. Mais tarde, a sensação amadureceu, a vida encheu-se de outros afazeres e o tempo corria veloz demais para a velocidade deste carro. Agora o prazer já era outro, ditado pelo charme da pequena carruagem. Deixou de ser escolha para pressas e foi usada para momentos em que o relógio vivia devagar. Mais tarde, ainda, abandonou por completo estes passeios, embarcou noutros, até ao momento presente, em que a viagem se fez de novo, através dos carris da memória. E quase jurava que voltou a sentir o aconchego do sobretudo e do vestido de lã.
5 comentários:
Infelizmente, fui perdendo quese todas as minhas memórias de infância. Estas, dos brinquedos que nos acompanharam os sonhos em crescimento.
Gostei muito do blogue
George,
Obrigada pela visita. Cá a espero! :)
Cá estou.
Passei para lhe desejar um feliz Natal
George,
Bem vejo! Agradecida :):)
Um excelente 2012 para si!
paula, gostei muito. parabéns.
Desejo que escrevas muito.Grande sensibilidade.
um beijo
ana castro (amiga da Maria Jorge, casa do alentejo, companheira de mesa.)
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