domingo, 3 de maio de 2009

A morte de Corín Tellado… ou o meu mundo não é deste reino

(imagem da net)


O meu mundo não é deste reino, é uma espécie de mote recorrente, que lhe visitava o pensamento a propósito de muitas situações: de um reino de cálculo ou de conta, daquela que faz, especificou, uma vez mais de si para si.

Na sua frente uma mancha de pequenas teclas pretas, que podiam dizer muito ou mesmo tudo do que se passava neste momento no seu mundo. O tal que vivia obstinadamente do lado de fora do reino, talvez porque a portagem fosse demasiado cara ou talvez porque o caminho para entrar no reino não se lhe apresentasse como o mais interessante. Demasiado poeirento, pensava.

Nunca pensou que esse seu mundo fosse cor-de-rosa. Antes pelo contrário, já que essa cor a incomodava e não lhe reconhecia grande interesse. Antes pensava que esse seu mundo fosse assim mais para os tons terra, aqueles que nos agarram ao chão e nos deixam criar raízes. Os tais que pensamos ser de Outono, mas que nem tanto, já que este prefere outros matizes, mais variados, como variegadas são as suas folhas.

Mas voltando ao cor-de-rosa. Lembrou de alguém que há pouco, muito pouco, lhe tinha dito que a Corín Tellado já tinha morrido. Ah… sim?!... Pois… respondeu ao trocadilho com um meio sorriso em tons cinza. Que a Corín Tellado nunca tinha existido realmente a não ser na utopia do sonho e do querer. Esse querer que tantas vezes nos afasta dos tons terra e teima em dizer que o cor-de-rosa ainda está na moda…

Concentrou-se na mancha de teclas negras que se comprimiam rapidamente sob os seus dedos, à velocidade em que o seu mundo ia descolorando, e vagueava perdido entre os tons terra e o cor-de-rosa, cada vez mais descorado…

Continuou percorrendo as teclas até que o relógio a trouxe de volta à realidade. Desligou tudo, levantou-se e preparou-se para abandonar o seu mundo a outros cuidados, talvez aos deste reino... Bocejou, programou o despertador que também não pertencia ao seu mundo mas a este reino e decidiu-se, sorrindo com o fim da metáfora: vou ter de mudar de tinteiro.

2 comentários:

paulofski disse...

No Ares da Patti fiquei a conhecer a escritora espanhola Corín Tellado que escreveu mais de quatro mil livros e vendeu mais de quatrocentos milhões de exemplares e que muitas leitoras se derreteram com as história e tornaram o seu mundo mais cor-de-rosa.
Recordo que em casa dos meus avós, a minha tia tinha várias revistas de romance e fotonovelas. Na minha curiosidade eu folheei algumas, embora não fosse bem o meu género de literatura! Se calhar também li Corin Tellado!

Paula Crespo disse...

Paulofski,
Também não é o meu género; aliás, lembro-me de ter folheado um ou dois fascículos quando era pequena. Mas aqui a referência à Corín Tellado era meramente simbólica.
Bjs