sábado, 9 de janeiro de 2010

Sem pés nem cabeça!...

Imagem tirada daqui

Quem não recorda o bem-humorado Jô Soares em Viva o Gordo! ? De vez em quando, ocorre-me uma das deixas mais bem conseguidas desse programa – das muitas! -, e dou por mim a repetir para dentro: Esse chão que eu amo, esse povo que eu piso!... E vem esta memória e o seu trocadilho a propósito de, pela enésima vez, ter sentido que esse chão que eu amo não nutre por mim o mesmo sentimento. Só pode! Lisboa, cidade cheia de luz, encanto e muitas outras graças, tem o chão mais "característico" de todos: uma calçada portuguesa, muito bonita, mas esburacada como não há outra. Um verdadeiro rendilhado de buracos, uma espécie de puzzle inacabado. E como para provar que a imaginação não tem limites, este chão desdobra-se em variáveis múltiplas, como, por exemplo, calçadas que quando por lá passamos mais parece que nos equilibramos com muito esforço numa difícil travessia sobre um rio, tentando acertar nas pedras para não cairmos à água. Aqui não há água, antes uns intervalos tão grandes entre cada pedra do caminho, dando a impressão que caminhamos por antigas calçadas romanas. Eu sei que nasci numa cidade repleta de História, mas também não era preciso levar a coisa tão a peito!

Imagino que seja o paraíso dos ortopedistas e endireitas! Esta cidade não é feita para ladies de salto agulha; é um chão de machos de sola rasa. Será o choro das pedras da calçada, frase tão portuguesa, a melhor expressão desta realidade? Ultrapassado o trocadilho, aqui fica uma reivindicação: ou a salvação deste chão português ou a salvação dos pés dos portugueses - pelo menos, das portuguesas! ;) - mas, por favor, quem de direito que se DECIDA!

7 comentários:

José Carlos Brandão disse...

É preciso amar o nosso chão. Por mais que ele não nos ame.
Beijo.

BlueVelvet disse...

Pois é. As pedras da calçada choram por serem picadas pelos nossos stiletos.
Faz como eu: andas de sapatos baixos e num saco levas os sapatos de salto alto para quando for preciso brilhares.
É só trocar:)
Bjs

Alberto Oliveira disse...

Com todo o propósito pôes "o pé na ferida". Mas o problema (porque de facto de um problema urbano se trata o de infligir ao cidadão maus tratos físicos)já não se confina à cidade alfacinha e da qual sou natural. Ele é comum a muitas outras cidades de um país que deixou de ter condições económicas para pagar a execução em perfeitas condições técnicas do chão dos nossos passeios mais simples ao rendilhado das zonas pedonais da nossa satisfação. E entre o chão artístico e esburacado e o chão liso, prefiro o ´segundo. Porque posso, de vez em quando, ao caminhar, fechar os olhos e imaginar que estou num país que zela pelos sapatos e pelos ossos dos seus cidadãos.

Sorrisos. Amarelos.

Paula Crespo disse...

José Carlos,
Talvez precisamente por isso... ;)
Bom fim-de-semana!

Paula Crespo disse...

Blue,
Que remédio! :) Mas isso não resolve o problema de base, não é?
Bjs

Paula Crespo disse...

Legível,
Eu também prefiro a segunda opção: antes ter um chão incaracterístico mas normal, em boas condições, do que um "mosaico artístico" arruinado.
Bom fim-de-semana!

mixtu disse...

e na certa na conheces o quebra cotas em coimbra...
yaya

abrazo serrano