Se é verdade que, nas últimas décadas, as autarquias têm desenvolvido esforços para criar novas infraestruturas, o que é certo é que a opção mais escolhida para rosto deste "progresso" é a criação, por exemplo, de piscinas municipais e de polidesportivos. Muito úteis, certamente. Mas criar estes equipamentos para quem? Isto pressupõe que haja habitantes nestas terras para desles desfrutar e para os dinamizar. Ora não são os pormenores que desenvolvem o interior mas sim a criação de empregos e de estímulos para repovoar o país. Criar equipamentos que quase só têm utilização no Verão, por mais agradáveis que sejam, é uma opção fácil e populista mas que não defende os reais interesses das regiões.
O turismo surge sempre como a solução mais promissora. Tomemos o exemplo da zona raiana. Tem património, tem história, tem boas acessibilidades. Mas há que criar interesses concretos que atraiam visitantes àquela região. Há alguns exemplos bem sucedidos, como é o caso de Idanha-a-Nova, com o seu festival de música anual e a criação do Centro Cultural. Mas há muito por fazer ainda neste campo. E, já agora, se as câmaras raianas se queixam (à imagem de todas as outras) que não têm dinheiro suficiente para fazer crescer os seus municípios, porque não se juntam numa acção concertada para dinamizar regiões e não só para dinamizar concelhos?
Em vez de se persistir na gestão individualizada, em que cada município vive de costas voltadas para o seu vizinho, porque não partilhar recursos - financeiros e logísticos?
11 comentários:
Belo texto Paula! Exprime exactamente o que eu penso, pois essa desertificação não se passa somente na beira interior mas em todo o interior de Portugal.
Sabes qual a dúvida que tenho? Se, para haver este tipo de visão as pessoas não terão de ser um bocadinho mais evoluídas e cultas. Não digo isto com uma conotação elitista de que só a pessoa culta é que consegue fazer obra, mas é facto provado que quem tem mais conhecimento tem as vistas mais alargadas.
Beijinho e boa semana
ps - também já me tinha perguntado várias vezes qual a utilidade das piscinas no inverno neste tipo de regiões...
Gostei muito de te ler...
grande pontaria no "desperdicio" e desaproveitamento de meios...
Era bom que eles te lessem, Paula.
abraço
Por herança familiar de certa forma faço parte desse boom de emigração do interior. Sendo filho de transmontanos e ribadourenses tenho um certo apego às raízes dos meus avós e dos meus pais, mas também aquela distância própria de um citadino que procura os ares e sossegos das terrinhas só para rever os poucos familiares que ainda lá vivem e para descanso de férias. Felizmente assisto a algum desenvolvimento e essencialmente à melhoria das acessibilidades o que permite encurtar distâncias. Mas também a algum esquecimento e lentidão no cumprimento de expectativas criadas pelo poder central. Refiro-me por exemplo ao Conselho de Vila Nova de Foz Côa, de onde meu pai é natural, onde a descoberta das gravuras rupestres, foi um factor de interesses e motivações mas com o passar do tempo verifica-se que foi tempo perdido e a região permanece esquecida.
Obrigado pelo tema.
Bjs.
Concordo com a acção conjunta dos municípios vizinhos. Porém, algo terá de mudar na mentaliddade das gentes e dos autarcas que as representam.
ainda se verificam muitas rivalidadezinhas tolas e ancestrais.
a desertificação do intrior é um facto altamente preocupante. Tive, muito recentemente, acesso a números de Beja e da vila do Alvito, que dão a realidade de mais 929 óbitos/ano do que nascimentos, em Beja, segundo dados oficiais de 2004!!!
Depois, nas pequenas vilas do Alentejo, como o Alvito ou Viana do Alentejo, por exemplo, só se vêem idosos pelas ruas. E em período de férias lectivas...
Saudações e boa semana.
Jorge P.G.
Centrado, lúcido e coerente. Melhora a cada dia, querida Paula. Acredito que esta realidade não é apenas pertencente ao seu país, porém, a muitos outros. O êxodo rural, assim como, o das pequenas cidades é assustador.
Beijos!
Ka e Jorge,
Pois, parece-me que é mesmo uma questão de mentalidade e foi precisamente aí que pretendi pôr a tónica desta questão. Para se desencadear uma acção conjunta é necessário que as pessoas (neste caso, as autarquias) consigam desprender-se dos seus "pequenos poderes" e ter uma visão mais alargada.
Lb,
Concordo com o seu comentário. Lisboa é macrocéfala, em termos de administração do território e devia-se descentralizar mais. Mas evoluiu-se muito e muito se fez, de facto; o país de hoje é muito diferente do de há 2 ou 3 décadas e as pessoas esquecem-se disso. Mas o que eu queria dizer é que é necessário ter uma visão de conjunto, ou seja, devia-se planificar, ter uma perspectiva do todo e não começar pelos pormenores, apesar destes também terem a sua importância.
Paulofski,
Ainda bem que falou em Foz Côa. de facto, depois do "boom" provocado pelas gravuras rupestres e apesar delas, a verdade é que ainda não se viu acontecer mais nada. Por acaso, ainda há poucos dias eu comentava isso mesmo com uns familiares meus.
Boa semana!
Luis Eme e Oliver,
Obrigada! Vocês estragam-me com mimos ;))
Estive de férias, por isso só agora respondo aos comentários :(
Beijos e boa semana!
a tendência para concentraçao e a maximização de meios gera orbitas afastadas dos centros, e o crónico olhar para o umbigo de quem detem o poder e tende a faze-lo perdurar leva a que na grande maioria dos casos as gentes afastadas dos centros sejam vistas como rácios de uma decisão eleitoral ou fragmentos de uma estatistica sem humanidade...
um abraço
cm,
Bem-vindo(a)(?) a este meu espaço.
Pois é, a tal questão da macrocefalia da capital...
Boa semana!
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