O mundo de Joana assenta nas rendas, nos bordados, nos paninhos, nas linhas, nos berloques, nos cabelos, nos botões. Assenta nos talheres de plástico, nos tachos, nos espanadores, nas meias, nos comprimidos, nas santinhas, nos objectos diários, nas supostas inutilidades, na caixa vazia, nas formas de todas as formas.
O mundo de Joana transporta-nos numa viagem pelo feminino, como no caso de A Noiva, um imenso lustre feito de tampões higiénicos, onde facilmente caímos na tentação de o ler como uma metáfora à sexualidade e fecundidade femininas. Ou na mulher de Burka que se despenha até se estatelar no chão. Ou no sapato da Cinderela, numa provável alusão à mulher-gata-borralheira, cheia de tachos... Ou, ainda, como no caso de Flores do Meu Desejo, um conjunto de suaves e delicados espanadores cuja forma faz lembrar um útero.
Este mundo dialoga em permanência e cruza-se em jogos de linguagem que também vão beber à tradição e à história, como no conjunto Coração Independente, num resultado magnífico que faz lembrar a filigrana e os corações de Viana, ou como na carripana apinhada de Nossas Senhoras de Fátima.
Mas também é um mundo grande e colorido como em Contaminação, uma alusão à globalização e à sociedade de consumo, ao desperdício. Num mundo que vive assente na imagem, ela pega em objectos do quotidiano, redimensiona-os até atingirem proporções gigantescas e confere-lhes outros significados que não os originais. Recicla-os. Cria outras palavras para outras imagens.
7 comentários:
Uma redescoberta das tradições portuguesas com um toque de modernidade e imaginação. Imperdível.Obrigado pela lembrança.
Centralina,
Muito interessante esta mostra de Joana Vasconcelos: tradição e crítica. Intervenção. Arte...
gostei de te ler.
nunca tinha olhado para a obra de Joana Vasconcelos nessa perspectiva, mas acho que sim, Paula, estás certa.
bjs
Luis Eme,
Obrigada, mas é a minha perspectiva. Também, vale o que vale... :)
É maravilhosa esta nossa artista portuguesa. A exposição no CCB era algo espectacular! Toda a nossa "portuguesidade" ali exposta no seu melhor. Dos cães de loiça ao armário de vidro cheio de bugigangas dentro:-)
Muito bom, mesmo
Vera,
Nem mais, ela faz arte através destes conceitos ligados à portugalidade, e desmonta-os muito bem.
Obrigada pela visita e volte sempre! :)
Vera,
Sorry, mas não percebi logo que eras a Vekiki... e que já eras visita habitual...;)
sorry, sorry...
Bjs
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