No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe!
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos!
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais!
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura!
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos...
Mas tu esqueceste muita coisa!
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha - queres ouvir-me? -,
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:
"Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal..."
Mas - tu sabes! - a noite é enorme
e todo o meu corpo cresceu...
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas...
Boa noite. Eu vou com as aves!
Eugénio de Andrade, in Antologia Breve
domingo, 4 de maio de 2008
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7 comentários:
parabéns à mãe
parabéns a ti
parabéns ao Pedro, hoje no seu 15 aniversário....curiosamente, no dia do 15 aniversário do meu rapaz
beijinhos, sobretudo a ti...
olá e parabéns!
Mãe:
Linda
Coragem
Simples
Presente
Amiga
um sorriso :)
PS:upss, também sou mãe ;)
Luis, Mariam e LB,
Beijinhos recebidos e retribuídos.
Obrigada pelos mesmos e pelos mimos :)
Justa homenagem para a mais essencial das mulheres.
Um beijo!
P.S.: Esta semana não temos filme, não é?
Oliver,
Pois é, esta semana houve descanso do grande écran ;)))
Beijos!
que belíssimo poema, e quê terrível também!
Kaplan,
Concordo: é belíssimo e terrível. Mas absolutamente verdadeiro.
Obrigada pela sua visita!
Bom fim-de-semana.
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