quarta-feira, 18 de março de 2009

O desabafo do i...


Deve de ser da crise: não há quem não se queixe, até o nono filho do alfabeto já apresenta sintomas de depressão e anuncia publicamente que vai mudar de vida. Divirtam-se!

segunda-feira, 2 de março de 2009

Um bairro daqui...


Este bairro tem ruas antigas, com passeios de pedrinhas, tortas, e tascas, e trolhas. Muitas tascas, atafulhadas de homens (quase só homens entram e comem nestes lugares esconsos e estreitos). São os restaurantes dos homens de prato cheio e de assador à entrada. Sempre me intrigou a atracção deles por este tipo de lugares. São ruas também povoadas por muitos trolhas, descansando entre o meio-dia e a uma da tarde, de mini na mão e beata no canto da boca. E na boca piropos foleiros, antiquados e desusados, que largam sempre que um par de saltos altos lhes passa diante do queixo. Num dia que passou há pouco houve um, contudo, que me fez sorrir, de naif que era: “Ó menina, passe por aqui mais vezes…”, saiu-lhe.

São ruas do sul, ruas de gentes morenas, ruas com gatos e buracos e pequeninas lojas de linhas e botões. E muito sol. São ruas com peixe assado e tiras de entrecosto. São ruas com roupa estendida à janela, em prédios de três andares e águas-furtadas. São ruas com carris de carros eléctricos, uns que ainda passam, outros que já não… São ruas que não entendem estrangeiro, não acolhem executivos fardados de cinza, nem percebem o porquê da crise financeira. Estas ruas não são de agora mas sim de um qualquer filme neo-realista italiano, sem a atitude padronizada dos dias de hoje, mas com o sentimento de sempre.

Passo por elas e vem-me à memória o fado de Mariza:

(...)
Oh gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi
(...)